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"JN" terá apresentador negro

Por Agencia Estado
Atualização:

A estréia de Heraldo Pereira na bancada do Jornal Nacional, neste sábado à noite, na Globo, dificilmente passará despercebida. Não só pelo fato de ele nunca ter estado naquele cenário, mas principalmente por ser o primeiro negro a ocupar a cadeira do noticiário de maior audiência do País. Por mais que seu currículo faça jus à competência exigida para a função, não há como fugir da sensação de que algo está efetivamente mudando no reino encantado da televisão. Afinal, a negritude sempre esteve mais exposta na vida real do que na telinha - durante longos anos, a televisão quase nos fez crer que a maioria da população brasileira era louríssima. "Tenho o maior orgulho de ser negro e de apresentar o Jornal Nacional", diz Heraldo, que se revezará com outros apresentadores nas edições de sábado. Após 22 anos como repórter nas ruas, o jornalista começou a conviver com o estúdio entre o fim de 2001 e o início deste ano, por sugestão de Carlos Schroder, Diretor da Central Globo de Jornalismo. Tem ancorado o Bom Dia Distrito Federal e o noticiário de Brasília no Bom Dia Brasil e do Jornal das Dez, da Globo News. A estréia no JN coincide com a semana em que se festejou o Dia da Consciência Negra. Para ele, é só uma coincidência, não um feito da Globo para parecer politicamente correta. "No começo da minha carreira, em Ribeirão Preto, o Oliveira Andrade, a quem eu devo minha carreira na TV, queria contratar um negro para a reportagem da EPTV. E a escolha da minha carreira aconteceu por isso, por eu ser negro", conta. "Agora, na estréia do Jornal Nacional, espero que não seja só por isso", brinca. Tanto é verdade que a TV nunca se preparou bem para colocar os negros em evidência, que Heraldo está à espera de um ponto eletrônico da cor de sua pele. O item, usado por todos os apresentadores de noticiários da Globo, foi basicamente criado para peles claras. "Mas já estão fazendo um para mim. Aqui em Brasília, o equipamento não existe", ele conta. Há oito anos cobrindo o Palácio do Planalto, Heraldo esteve em todos os continentes e em toda a América Latina, no rastro do presidente Fernando Henrique, com quem conversou algumas vezes sobre a questão racial. "Ele é um doutrinador", afirma. Na Globo, conta, jamais sofreu qualquer limitação pela questão racial. Bom de papo, Heraldo é um mestre na arte de ganhar a confiança de seus interlocutores. Mas é um talento pessoal, avisa. "Não é algo que eu pratique para fazer média com os outros". Se já não bastasse a vocação para tanto, Heraldo, formado em jornalismo, deverá concluir no próximo ano o curso de Direito.

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