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Jessica Lange, atriz duas vezes vencedora do Oscar, mostra lado de fotógrafa em SP

'É algo que consigo fazer na completa solidão', diz atriz, que estará em São Paulo para a inauguração da exposição no MIS

Por Pedro Antunes
Atualização:
Jessica Lange, no programa 'American Horror Story: Freak Show' Foto: FX/Divulgação

Há um brilho raro nos olhos cor de âmbar de Jessica Lange, enquanto fala sobre o encantamento que a fotografia exerce na vida dela. Hoje, aos 65 anos, a atriz, modelo e sex simbol duas vezes vencedora do Oscar, alterna a profissão com o hobby de fotógrafa, a partir desta quarta-feira, 11, exibido no Museu da Imagem e Som, na exposição Jessica Lange: fotógrafa. 

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Fala com vividez e paixão sobre a arte de capturar um momento, congelá-lo no papel e guardá-lo pela eternidade. Promove, nela, a sensação obscura do anonimato. Para alguém que estreou no cinema com o blockbuster King Kong, em 1976, deixar o holofote e se ver atrás da câmera, em um processo tão solitário como a fotografia é algo a se buscar. E, por isso, os olhos cheios de vida. 

Jessica Lange: fotógrafa será exposta no MIS de 11 de fevereiro a 5 de abril. Nesta terça-feira, 10, a atriz participará de um bate-papo com convidados e público, mediado pelo fotógrafo Iatã Cannabrava. Em entrevista ao Estado, na tarde chuvosa desta segunda-feira, 9, no saguão de um hotel no bairro do Jardins, em São Paulo, Lange expôs seus pensamentos sobre a arte da fotografia, sobre as possibilidades de fotografar no Brasil e como o anonimato lhe faz bem. Leia: 

Vejo as fotos clicadas por você e, assim como o trabalho do brasileiro Sebastião Salgado ouCartier-Bresson, percebemos o fotógrafo como um observador. Quando você descobriu isso em você? 

Acho que sempre fui uma observadora. Acho que, de uma forma ou outra, é como atuar. Se entregar para a fotografia e vice-versa, é muito sobre observar e estar presente, na verdade. A verdade na fotografia que é muito similar à atuar é precisar estar presente. Para olhar, entende? É isso que você está fazendo como fotógrafo. Sempre estar observado. É algo que sempre me interessou. Mesmo antes, do outro lado da câmera. Foi sempre a ideia de observar. 

Você começou como uma estudante de fotografia, mas a sua vida mudou de rumo e se tornou atriz. Mas a fotografia voltou. O que motivou você a voltar para isso? 

Primeiro, recebi essa câmera de presente (uma Leica M6). De repente, tinha essa Leica e, pensei: "Eu deveria fazer algo mais do que só tirar fotos aleatórias.' Eu comecei a fotografar no México porque háalgo que me parece ser mágico lá. O que acontece é, como fotógrafo, você está fotografando o que atrai você emocionalmente. Então, lá, existe algo incrivelmente sedutor, misterioso e mágico. E foi quando eu comecei a fotografar de forma séria. Foi quando eu estive lá. Foi há 15 anos. Então, isso deu início a tudo. Eu voltei a isso e foi ótimo também porque é uma coisa na minha vida porque posso fazer absolutamente na solidão. Sozinha. Sem absolutamente nenhuma comunidade envolvida. Nessas horas passadas em um quarto escuro. E são extraordinárias. Estar ali, sozinha, lidando com esse lado técnico da coisa. 

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Pensando em uma relação entre os ofícios de fotógrafa e atriz, no segundo deles, todas as atenções estão em você - mesmo nas filmagens, depois, nas telas. Na fotografia, contudo, a sua presença inexiste. Você é quase uma anônima. 

Sim, é maravilho. É um ótimo outro lado da moeda. Porque é muito privado. Você é o observador. Não é aquele que está sendo observado. Tem essa qualidade. O que eu amo na fotografia, e vejo isso mais e mais, é: Você fica editando enquanto está observa. Obviamente você também o faz quando recebe os negativos das fotografias, escolhendo os frames, mas a edição inicial. Mas a edição iniciou é feita enquanto você observa. E eu sempre tento entender. Quando estou diante de uma fotografia - e tenho uma coleção enorme de fotografias e penso nelas ao longo dos anos -, sempre tem a ver com alguma resposta emocional. A minha resposta sobre a fotografia que quero comprar é porque existe uma combinação entre a resposta emocional que o fotógrafo experimentou e a aquela que agora eu estou tendo. Eu acho que quando estou fotografando, é o que eu busco. Quero dizer, a gente vê milhares de imagens e aquelas que escolhemos, obviamente, estamos criando essa edição de acordo com a nossa reação emocional. Então, é um processo fascinante. 

Falamos do México, a da inspiração que o País provocou em você. E sobre o Brasil? Já pensou em passear por aqui para buscar algo que capte a sua atenção emocional? 

Bom, sim. Eu não tenho nesta viagem, o que é péssimo porque fico entre ir ao museu e ao hotel (no Jardins). Não vejo nada. Não há tempo nessa viagem. Mas eu imagino que seria um lugar incrível para fotografar. 

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Você estava dizendo que os olhos editam as fotografias a todo momento. Mas qual é a sensação de estar atrás da câmera, apertar o botão e congelar aquele momento? 

Sabe, você está ali, olhando, observando. E, às vezes, existe uma resposta. Um desejo de capturar aquele momento único. Um gesto, uma expressão, uma mudança de luz. Qualquer coisa que acione essa resposta em você. E, existe um sentimento de relação de que você pensa: "Ah, eu capturei aquele momento". Mas, às vezes, acontece de você olha para as provas e a imagem que você esperava para ver ali, em celuloide, é um tremendo desapontamento. Não era o que você estava esperando. Não era o que você esperava que seria. Mas o que é incrível na fotografia é que você se surpreende com algo que não esperava. De uma foto que você não se lembra e, então, ali está a fotografia que você queria. Então, acho que é o que eu amo sobre isso. É um processo muito misterioso. E os filmes... É péssimo o fato de que os filmes estejam sendo levados pela onda, sabe? Não deixar de ser arte pura, em alguma forma. O digital vai tomar conta de tudo. Eu vejo agora, quando estou no set, ou estou fazendo alguma publicidade, com que frequência o fotógrafo está ali e sequer olha para a cena. Está apenas apertando aquele botão e tirando uma série de fotografias. É quase como aquele bombardeio em tapetes vermelhos das premiações. Sabe? Eles não precisam observar mais. Porque estão gravando tudo. Isso é muito diferente.

Colaborou Luiz Carlos Merten. 

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