James Hill fala sobre a ascensão do instrumento 'uke'

Músico canadense, um dos grandes do ukulele contemporâneo, toca no Sesc São Carlos

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Por ROBERTO NASCIMENTO - O Estado de S.Paulo
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Não subestimem o ukulele. Ele é pequeno, barato e tem cara de "meu primeiro violão". Toca pop fofo, acompanhando cantoras mignon de voz frágil, e não passa de um detalhe de produção em discos acústicos. Mas na mão de quem entende, o "uke", como é chamado o instrumento pelos que dividem sua intimidade, é capaz de esmerilhadas virtuosísticas impressionantes, flertes com a música experimental e claro, uma desarmadora simplicidade folk. "Eu não sei direito porque as pessoas não esperam nada do ukulele", reflete o canadense James Hill, um dos grandes do ukulele contemporâneo, que toca hoje no Sesc São Carlos. "Talvez seja sua história relacionada à música cômica dos anos 30. Mas isso é ótimo. Eu sempre surpreendo as pessoas", completa. O fator surpresa de James Hill pode ir de um estonteante voo técnico no instrumento, como o de Ode To a Frozen Boot (confira no YouTube), em que Hill toca bluegrass com uma velocidade que seria elogiada por Earl Scruggs, quanto a um cover de Billie Jean, de Michael Jackson. Seus shows solos e discos são tidos como modernizadores do instrumento. "Os produtores de casas de shows sempre riem quando eu ligo para ter certeza de que há um subwoofer (amplificador de graves) na casa. Quando eles assistem ao show, eles entendem", conta Hill, que é também chegado em devaneios experimentais, com ukulele preparado (a necessidade de tanto grave vem de um "pauzinho" de comida japonesa que é usada como uma quinta corda mais grave). O pequenino 'uke' então vira uma "máquina de dance music, como as ferramentas de um DJ", conta James, que é fã incondicional de Daft Punk. Sua fama nos últimos anos anda de mão em mão com a ascensão do ukulele, que vem sido usado por roqueiros e artistas independentes, de Eddie Vedder a Tune-Yards, Zooey Deschanel, Edward Sharpe, Death Cab for Cutie e outros. "Eu nunca achei que fosse viver para ver o dia em que o uke fosse tão popular quanto é hoje. As pessoas ainda o colocam na categoria do glockenspiel (o sininho musical usado por crianças), mas ele tem crescido", explica. Mas nem só de música contemporânea e vanguardismos vive James. Parte de sua agenda internacional é virada à educação pelo "uke", instrumento de função didática importante nas escolas canadenses, que desde os anos 60 o usam em aulas de música. Sua viagem ao País visa desenvolver um projeto em parceria com o ponto de cultura Canal Aberto / Espaço 7 e a Universidade Federal de São Carlos para disseminar a musicalização infantil pelo ukelele. "É um instrumento mágico para o ensino musical. Barato, portátil, funciona solo, e em grupo e acompanha a voz", conta. Quando pergunto se isto talvez possa ser feito com o cavaquinho, a resposta é sim, a estrela das rodas de samba pode ser moeda franca de ensino musical. Divide até o mesmo antepassado que o uke, herança dos portugueses no Havaí.

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