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Jacques Derrida faz workshop no Rio

Ele veio ao Rio acompanhado de seu companheiro de estudos René Major, para um worshop de quinta a sábado. Entre os temas, Derrida e a Psicanálise, Amizade e Hospitalidade, Crueldade e Soberania e O Futuro do Homem Face à Tecnologia

Por Agencia Estado
Atualização:

O filósofo francês Jacques Derrida tem uma vitalidade surpreendente para seus 70 anos. Ele chegou ao Rio, na quinta, para um workshop que termina no sábado e não parou. Passeou por Copacabana (que não conhecia) pela manhã, almoçou com jornalistas e psicanalistas na casa do cônsul-geral da França, Raymond Barbeyron, e às 19 horas estava no Planetário da Gávea, local do encontro com brasileiros, disposto a falar e a responder perguntas sobre sua obra e seu pensamento até o fim da noite. É sua primeira visita ao Rio (já esteve em São Paulo) e ele comentou que seu companheiro de estudos René Major, que já esteve aqui outras vezes e o acompanha agora, não descreveu a cidade à altura da paisagem vista da janela da casa do cônsul: a Baía de Guanabara, com o Pão de Açúcar banhado de sol em frente do 15.º andar de um prédio no Flamengo, zona sul. "Sou um viajante que não faz turismo. Perdi a conta dos lugares onde fui, mas nunca tenho tempo de conhecer o que as cidades têm de bom", disse com um suspiro de admiração. "Meus amigos daqui me intimaram a fazer uma viagem meio de férias, meio de trabalho pelo Brasil. Eu faria uma conferência por semana e passearia. Mas sei que aqui há dezenas de lugares que seria imprescindível conhecer." Essa viagem de Derrida ao Rio não deixa de ser afetiva. Em julho, durante os Estados Gerais da Psicanálise, em Paris, ele conheceu a agente de viagem Vilma Oakim, que havia levado 200 profissionais brasileiros para o encontro, no qual o filósofo foi a estrela. Ficaram amigos, mas ela adoeceu durante a viagem e morreu. "Ele se sentiu comprometido com esse workshop, um sonho dela, que só se realiza depois de sua morte" contou Major. Em vez de uma conferência tradicional, em que o filósofo desenvolve e tece comentários sobre um tema previamente escrito, em função da reação do público, esse encontro no Rio será praticamente um improviso. Derrida e Major vão responder a questões levantadas por brasileiros estudiosos de suas obras. Na quinta-feira, o tema era Derrida e a Psicanálise, hoje estava previsto Amizade e Hospitalidade e amanhã haverá duas sessões. De manhã, eles responderão sobre Crueldade e Soberania e, à tarde, as questões são sobre o tema O Futuro do Homem Face à Tecnologia Na quinta-feira, ele queria se poupar para estar com o raciocínio agudo diante do público brasileiro. "Não abordo questões simples, com respostas curtas e, por isso, preciso me preparar cada vez que falo", explicou. "Sou muito solicitado por jornalistas e estudantes e evito falar sem ter um tempo de reflexão." Apesar disso, sua obra é imensa e vem despertando discussões desde os anos 60, quando foram lançados os livros A Escritura e a Diferença e Gramatologia, textos fundamentais para o entendimento de sua filosofia. Desde então, surgiram dezenas de novos estudos, numa produção que impressiona tanto pela qualidade quanto pela quantidade. O professor de filosofia e teoria da literatura Evando Nascimento, seu ex-aluno que no ano passado lançou o livro Derrida e a Literatura, arriscou uma explicação. "Ele tem as conferências muito bem preparadas e as reúne nos livros, quando se tornam uma reflexão aprofundada", disse. Certamente, o que ele e Major disserem aqui terá esse destino, o que vai satisfazer seus estudiosos que não puderam ouvi-lo. O ingresso individual para os quatro encontros era R$ 220,00, embora 50 convites tenham sido distribuídos nas universidade públicas do Rio, mas havia previsão de se gravar todas as palestras.

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