PUBLICIDADE

Ivan versão campestre

Mais perto do bucólico, distante do jazz, Ivan Lins lança Amorágio

Por Emanuel Bomfim
Atualização:

Não é de hoje que Ivan Lins é apaixonado pela música sertaneja, mesmo com o sotaque carioca, o sangue tijucano e o amor pelo mar. Seu apreço pelo universo de tradições caipiras, que já rendeu composições como Ituverava, deixou de ser mera descoberta para virar projeto definitivo. O eclético Amorágio, disco que acaba de lançar, mostra que o som límpido da viola pode fazer tão bem ao cantor quanto seu inseparável piano de fluidez pop e jazzística.A imersão pela música de raiz foi "culpa" do seu principal parceiro, o paulista Vitor Martins. Ainda na década de 70, o amigo lhe mostrou o rico acervo sertanejo do selo Chantecler, pertencente à gravadora Continental, que abrigou gênios como Lindomar Castilho e as duplas Tião Carreiro & Pardinho, Milionário & José Rico e Pena Branca & Xavantinho. Foi amor à primeira vista."As canções sertanejas são as que mais me emocionam. É engraçado o fato de eu ser carioca e ter este apego tão forte com a música sertaneja... Talvez seja pela simplicidade, o desenvolvimento harmônico e melódico que se parece com todas as músicas folclóricos de outros lugares do mundo", teoriza o compositor.Nos últimos anos, ele passou a se dedicar mais a esse lado inspirado pelo cenário campestre. Com o compositor Rafael Altério criou a dupla Fioravante & Guimarães, que já emplacou a canção Sertaneja em uma novela da TV Globo. Ambos querem lançar um disco dedicado ao gênero em breve. Para quem está acostumado a ver Ivan Lins ao lado de orquestras mundo afora e de jazzistas de alto calibre, a novidade causa um misto de espanto e curiosidade.Em Amorágio, que sai pelo seu selo OiLua, 2 das 11 faixas têm esse acabamento da música caipira: Atrás Poeira, gravada por ele em disco homônimo de 1986, e a valsa Olhos pra te Ver, que assina com Gilson Peranzetta. As demais prezam pela multiplicidade de gêneros abarcados pelo cantor, samba, jazz, xote e até fado. Em Fado Saramago, musicou um poema do autor português e convidou para cantar o fadista do Alentejo Antônio Zambujo. Ele recrutou também Tatiana Parra e o carioca Pedro Luis, que deu tempero rap a X no Calendário, que critica a operação das UPPs nos morros do Rio.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.