Ivan Lessa: Onda de crimes varre Reino Unido

Colunista comenta o aumento da lista que define delitos tidos como crime na Grã-Bretanha.

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Por Ivan Lessa
Atualização:

"A Heleninha está beirando os 32 anos e ainda não se casou." "Isso é um crime." Ou: "O Pafúncio há uma semana que não aparece em casa." "Isso é um caso de cadeia." Sim, são exageros. Coisas de nossa linguagem. Expressões populares. Há crimes e casos de cadeia em nosso querido Brasil e nem sempre, infelizmente, os responsáveis são devidamente punidos dentro dos termos da lei. Prefiro, no entanto, ficar na retórica imaginativa, que, como aquele célebre analgésico, é melhor e não faz mal. Aqui no Reino Unido, conforme o título destas linhas, desde 1997 uma onda de crimes varre o país. Onda? Tsunami, isso sim. Para ser preciso, 4.300 crimes foram especialmente criados. Ou, melhor dizendo, levaram o carimbo oficial legislativo que os define e pune. A média é de 28 crimes novinhos em folha desde que o partido Trabalhista, o chamado Labour, subiu ao poder. Com Gordon Brown como primeiro-ministro no lugar de Tony Blair, o índice subiu para 33 por mês. Não sou eu quem o diz, mas sim o eterno terceiro lugar na disputa partidária, os chamados Liberais Democratas. Está lá, o preto no branco. Eles mataram a cobra e mostraram o pau. Se bobearem isso também acaba virando crime. Ou transgressão, violação de lei, dolo, delito, o que bem entenderem. Todos aqueles que não pediram a mão de Heleninha podem perfeitamente passar do crime meramente verbal a uns bons meses - anos, talvez - de xilindró. Nosso querido Pafúncio, esse bom malandro, pegando um juiz enfezado pela proa, também pode passar mais uns tempos fora de casa: na cadeia, vendo o sol nascer quadrado. Vale a ressalva: ainda bem que a pena de morte foi extinta há mais de meio século, caso contrário, não sei não, não sei não. Vamos ao que interessa. Vamos aos crimes. Peguemos um jacaré nessa onda que cerca a mim e a todos os cidadãos nesta terra residentes ou domiciliados. Mantendo uma tradição que, no fundo, confesso admirar, os britânicos demonstram seu gosto pelo bizarro e pelo excêntrico. Seguem algumas das transgressões ainda em seu jardim da infância no mundo dos dolos e delitos: * É terminantemente proibido adentrar o corpo do que sobrou do Titanic sem a devida permissão dada por um ministro. * Considerar-se-á crime quem se fizer conscientemente passar por advogado. * Quem causar uma explosão nuclear. * Quem perturbar ou ficar mexendo num pacote ou pilha de ovos após devidamente advertido por uma autoridade. * Pescar em certos portos sem permissão legal determinados tipos de peixe. * Transportar cereais em navio sem cópia a bordo do Código Internacional de Grãos e Cereais. * Mirar facho de luz em avião com o fito de perturbar o piloto. * Pescar na parte inferior do rio Esk, na Escócia. * Obstruir pessoas autorizadas a inspecionar pomares de maçã, pêssego ou nectarina. * Oficial de navio mercante que não inspecionar direito uma porta afim de averiguar se ela está fechada ou não ficará exposto aos rigores da lei. * É expressamente proibido vender certas espécies de esquilo, o cinzento, por exemplo, em qualquer circunstância. O mesmo valendo para determinados tipos de pato ou plantas herbáceas japonesas. * Atrapalhar os operários que trabalham nas obras de reparos na ferrovia das docas londrinas. * Levar um cachorro para passear com uma coleira maior do que a expressa em áreas específicas. * É crime punido com todo o rigor da lei enumerar em qualquer texto escrito ou falado mais de 5 crimes criados de 1997 para cá. Esse último é mentira. No entanto, sei perfeitamente que estou brincando com fogo. Já não está mais aqui quem falou. Ou enumerou. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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