Ivan Lessa: O saque do laureado

Colunista comenta as inglórias dos britânicos nos esportes e o apontamento de um poeta oficial para o torneio Wimbledon.

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Por Ivan Lessa
Atualização:

Bobeou e eles mandam-lhe um alexandrino de varar a sua raquete. Eles, os ingleses. Andam fraquejando em muita coisa. Esportes então nem se fala. Apesar de concederem que foram os gregos que dispararam na primeira corrida fundista ou no revezamento 4x100, para não citar a óbvia maratona, os ingleses se acham o mais desportista, e esportivo, dos povos. Há que se reconhecer: críquete é com eles e deles. A sinuca - que não, não foi inventada pelos malandros da época de Noel e Lima Barreto - deve-se a uma falta do que fazer dos militares na época do bem-bom do Império quando foram (eu disse, "foram") mestres, aí sim, na disciplina de deixar os outros darem o duro que eles deveriam estar dando. Agora, são os mais desatinados torcedores do mundo, os ingleses. Os escoceses, não. Nem os irlandeses do norte ou da república, nem os galeses. Os ingleses dominam as gerais, as arquibancadas e os bares a caminho e nos arredores dos estádios esportivos do globo terrestre. Dentro do campo onde se pratica aquilo a que foram se desmandar, verdade seja dita, não são lá grande coisa. Nem no tênis (outra modalidade esportiva de que se julgam, erroneamente, inventores; todos sabem, menos eles, que foram os franceses que deram origem ao nobre esporte) e mesmo no críquete, até onde posso julgar, já que volta e meia vejo nos jornais que a seleção andou perdendo para a Austrália, o Paquistão, as Índias Ocidentais, às vezes simultaneamente para todos no mesmo dia e hora. Agora, voltando ao começo, onde não consegui, por indisciplina mental e falta de talento, são poetas até dizer "chega". Mas não diga "chega", porque há coisa à beça no versejar em que são - aí, sim, indubitavelmente - mestres e dodeca- ou o que for campeões. E olha que não vivem de glórias passadas. A poesia aqui é necessária, como sentenciou o injustamente esquecido Geir Campos e repetimos até hoje sem saber quem foi o primeiro a piar. A poesia aqui é mais do que necessária. É inevitável. Há, insuspeito, em cada vagão de metrô, ou banco de pub, um indivíduo tramando seu poeminha, como se fora um aprendiz de terrorista. Poeminha, às vezes, beirando o aceitável. No que pegamos uma condução e nos dirigimos para Wimbledon, onde se realiza o torneio de tênis mais conhecido do mundo. Lá, no distante ano de 1936, Fred Perry foi o último cidadão inglês a erguer a taça de campeão. Ponto. Depois, game, set e match para qualquer nacionalidade que não a inglesa. Que fizeram os ingleses agora então, com a disputa já se avizinhando? Ora, claro. Apontaram um poeta oficial para o torneio de Wimbledon. A Grã-Bretanha tem um poeta laureado. Por que não, então, um poeta para encontrar rimas ricas e escandir versos de real valor em honra a Wimbledon? Uma espécie de mascote à inglesa, eu diria. Ou uma superstição, daquelas nossas, botafoguenses cariocas. Lá está o moço nos jornais: Matt Harvey, o seresteiro dos saques sensacionais, como já o vou logo apodando em modesta aliteração. O poeta manterá um blog e gorjeará com seus admiradores via Twitter. Tem mais. Em dias de competição, ficará do lado de fora do clube recitando em voz alta o que lhe suspiraram no ouvido suas musas. Os torcedores ingleses poderão continuar sem um campeão, mas ganharam um poeta. E poeta oficial. Um jornal publicou seus versos. Sou incapaz de rimar "amor" com "dor", mas, num esforço de nossa reportagem, traduzi a muito custo dois versinhos. Aproveitem: "Wimbledon Onde tantas colunas vertebrais se curvaram em expectativa... Wimbledon O único sinônimo existente para tênis". Eu acho que é melhor que eles, os ingleses, emplaquem o quanto antes um campeão. Ao menos para o versejador Matt Harvey parar com essas besteiras. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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