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Ivan Lessa: O papa vem aí

Colunista comenta a expectativa e os protestos que aguardam a visita de Bento 16 ao Reino Unido.

Por Ivan Lessa
Atualização:

11 de setembro veio e se foi e não deu bolo nenhum. Ou quase nenhum. Ninguém queimou Alcorão. Protestos pró e contra a construção de um centro islâmico nas proximidades do nada que restou do World Trade Center tiveram lugar. Tudo bem, antes assim. Agora, aqui no Reino Unido, não se pode abrir um jornal sem dar lá com a viagem estatal do papa, o 16º da série de Bentos. Ateístas, ativistas e apáticos aguardam (aliteremos, altezas) a chegada a Edimburgo, na quinta-feira, dia 16, daquele que nossa imprensa gostava de chamar, sem ironia, de "sumo pontífice". Bons tempos. Bons tempos até o do 2º da curta série de Joões Paulos, que, em 1962, foi o última a realizar visita pastoral a estas ilhas. O primeiro João Paulo, coitado, pontificou muito pouco no Vaticano. Lembro-me que ria muito o que lhe valeu, entre nós, brasileiros, sempre irreverentes, o apelido de "Papa Gaio". Bons tempos de novo. Dava para se brincar com o papa e não acontecia nada demais com ninguém. O segundo João Paulo, polonês forte e de aspecto saudável, se amarrava (se o verbo não denota falta de respeito papal) a uma pista de avião. Era aterrissar, avião pousar, João Paulo descer a escadinha e, pronto, o homão caía de joelhos e beijava o asfalto, concreto ou seja lá o de que fosse feita a pista. O papa atual (né Ratzinger) não dá essa intimidade às pistas de pouso. Benção tem, e ele dá. Muita. Espera-se um recorde de benção dadas na viagem que terá a duração de apenas 4 dias. Edimburgo, Glasgow, Londres e, finalmente, Birmingham. Programação intensa. De tudo quanto é lado. O Reino Unido vem passando por uma época algo conturbada e a presença papal, ao contrário do que deveria ser, não vai ajudar em coisíssima alguma. Muito pelo contrário. Não se falou em queimar Bíblias, que isso já seria exagerar, mas há grupos dispostos a se manifestar. E com alarde. Um trabalhão para as autoridades que zelam pela paz nestas terras. Tem o grupo que exige ação clerical contra o abuso sexual de crianças. Outro protestando contra os quase US$ 35 milhões que a curta estada custará ao contribuinte, ainda agora mesmo às voltas com desmandos e despautérios do imposto de renda britânico. Secularistas e ativistas menos exaltados querem aproveitar a oportunidade para fazer perguntas difíceis para o papa. Deus, sua existência ou não, anda muito em moda por aqui, e há, no ar, um clima pedindo maiores esclarecimentos. Acham eles que o papa está por dentro e pode, se quiser, por um ponto final, nesse bate-boca e digita-tecla entre criacionistas, darwinistas, essa gente toda, enfim. Deixando de lado, claro, os apáticos, já que para esses, como o nome indica, tanto faz como tanto fez. Não para aí a turma querendo ir às ruas se manifestar. O Grupo de Ação Gay, Lésbico e Quejandos (acho que é isso) queria, até semana passada, dar voz de prisão ao papa, pelos crimes alegadamente praticado pelo clero. Deram uma marcha-a-ré, felizmente. E ainda, no meio de todos esses grupos, à exceção dos apáticos, para variar, há os que não se conformam com a posição da Igreja Católica em relação ao uso de condômios. Pausa e parágrafo para mim. Condômio é uma palavra que este vosso criado cunhou, baseado no condom inglês, afim de evitar o antipático e vulgar termo "camisinha". Camisinha é o que o Nelson Ned, "O pequeno Gigante da Canção", botava quando cantava Tudo Passará para o distinto auditório presente. "Con-dô-mi-o". Guarde aí, Aurelião, para acrescentar às recentes bobagens incluídas em vossa mais recente edição revista e, infelizmente, aumentada. Não há laboratório na história, nem esquema de jogada. É na base da maior sinceridade e, vamos e venhamos, o "condômio" é uma boa para todos os interessados, mesmo aqueles que preferem chamar de "preservativo" ou (coitados) "profilático". À exceção óbvia dos apáticos. No entanto, registre-se, está cada vez mais difícil praticar a apatia por estas ilhas. Eu, pela parte que me toca, procuro ao menos me manter informado. Desinformando um pouco o leitor desavisado, que também ninguém é de ferro. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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