Ivan Lessa: Muita mulher nua

Colunista comenta sua paixão pela era de ouro dos quadrinhos e recentes descobertas na internet.

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Por Ivan Lessa
Atualização:

Muita mulher nua e muita mulher pelada. Internetando, eu poderia ficar vendo, talvez admirando, muita mulher nua. Algumas até peladas. Muita gente faz isso. Nada tenho contra mulheres nuas ou peladas. Acompanhadas ou não. Fazendo isso ou aquilo outro. Problema ou alegria delas (e seus deles também). Minha cota de mulheres nuas e peladas fazendo artes já se esgotou. Meu tempo passou. Não que eu tenho enjoado. Mulher nua e pelada, até mesmo sendo apenas razoável, é sempre - perdão - um prazer. Agradável de se ver, ter, pegar, fazer o que normal, ou anormalmente, se faz nessas horas. Por ora, nesta prorrogação de meu tempo regulamentar, prestes a se esgotar, não tenho tempo para bobagem. Conforme disse a raposa para as uvas inalcançáveis: "Ora, estão verdes!" E que me perdoem as mulheres nuas e peladas. A culpa está em mim e não nelas. Claro. Internetando, digo a verdade, sou mais história em quadrinho. Da época de ouro da HQ. Lá entre os anos 40 e 50. Depois veio Stan Lee, romance gráfico, tudo, as coisas e as pessoas, ficaram excessivamente sérias. Tudo bobagem. Foucault e Derrida nunca se preocuparam com essas coisas. Nem mulheres nuas e peladas, nem com o Doll Man, o Homem-Bala, Manolita, Meia-Noite, Brucutu e Dick Tracy. Will Eisner é o santo padroeiro dessa gente toda, dessa época que se foi. Chegou até mesmo, num dia menos inspirado, a perpetuar o primeiro romance gráfico. Se visse o que Alan Moore e o Frank Miller e o Art Spiegelman fizeram com o gênero, deixaria serenamente que o Espírito encerrasse seu expediente se casando afinal com Helen Dolan além do mais com a benção do Comissário Dolan. E fim de história. Em quadrinho. Almocei uma vez com Will Eisner. Todos brasileiros almoçaram uma vez com Will Eisner. Ele nunca disse não a um festival de HQ, fosse no Rio, São Paulo ou Guarapuçaú. Nem todo brasileiro tem, no entanto, dois desenhos do Espírito incentivando-o, como é meu caso, a "keep up the good fight". Estão lá em casa. Emoldurados e pendurados na parede de meu quarto-escritório. Chego enfim ao busílis. Descobri, depois de quase setenta anos, como morreu O Cometa e porque foi substituído no Globo Juvenil Mensal, em fevereiro de 1942, por seu irmão, O Vingador, que nada tinha a ver com a série de nosso rádio. Um gangster, "Big Boy" Malone, em julho de 1941, matou O Cometa. Fico sabendo, e já tenho idade para suportar o choque, que tudo não passou de uma jogada comercial, direitos, questão de circulação. No sítio que descobri, depois de, sei lá por que motivo, googlar "o cometa hq", lá estava tudo. Um sítio por nome "hq Quadrinhos", em português, e que tem tudo, tudo, tudo da idade de ouro, prata e zircão das HQ. Como o zelador da prazerosa localidade conseguiu originais de capas e histórias para contar suas histórias não sei. Aonde pescou o acervo todo, santo Deus! Será que se trata de um legítmo super-herói? Num sei. Sei que lá está no perfil do homem: Lancelot, idade: 50; Gênero: masculino; Signo Astrológico: Virgem; Ano Zodíaco: Cachorro; Indústria: Agricultura; Locação: Afeganistão. Seguramente alguém tá "mangando de mim". O que importa é reencontrar os dois irmãos, ver, imprimir, pegar, depois de quase 70 anos, repito, sem ver O Cometa e O O Vingador. Tremendo de um blog. No momento, em minha cotação pessoal, cinco estrelas e o apodo de "O Melhor Blog do Mundo". Há outros sítios de HQ sensacionais. Mas sou egoísta. Devagar com o andor. Não acredito nessa história de que a internet é para ser compartilhada. Negócio é que quando é bão, mas bão mesmo, esconder, moitar, malocar. Ao Cometa e ao Vingador, tudo! Às mulheres nuas e peladas, bravo, parabéns, continuem na luta! Saibam, no entanto, que jamais chegarão aos pés de O Cometa e de O Vingador. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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