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Ivan Lessa: Feriadão & Trabalheira

Colunista comenta caso de ministro britânico que dividiu quarto de hotel com assessor e a chuva de fezes na França.

Por Ivan Lessa
Atualização:

Às vésperas do Brasil comemorar sua independência, fico pensando em qual o tema mais adequado para, de segunda a quarta-feira, atravessar aquilo que, no meu país natal, bem-humorado como sempre resolveu chamar-se pelo aumentativo: feriadão. Somos um país aumentativo por natureza, pois trata-se de qualidade natural aos gigantes. E o futuro tal fato espelha. Nunca fomos, nestes anos de Lula, tão aumentativos, tão "ão". Comemoremos o fato e alardeemo-lo ao mundo. O que não me resolve o problema de digitar algumas linhas condizentes com a passagem de nossa data - temos várias - magna. Feriadão para vocês, trabalheira para mim. Vou às folhas locais em busca de assunto que mereça a devida atenção. Em política, tivemos, semana passada, e a dose será repetida nesta semana, o lançamento do livro de memórias do ex-primeiro-ministro Tony Blair. Li trechos selecionados publicados nos jornais, passei os olhos nas críticas. Uns chamam o volume de mendaz, outros de honesta e saborosa leitura. Não tenho opinião formada. Muito trabalho ter opinião em terras alheias. Continuando no tema, a política, embora pegando um desvio violento: o assunto que tem dado mais manchetes é o suposto relacionamento indevido do ex-líder do Partido Conservador, William Hague, com um assessor, Christopher Myers, de 25 anos. Hague, de 49 anos, é casado, embora sem filhos, inteiramente calvo e, até onde se sabe, ou sabia, um homem para ninguém por defeito. Pois deram para por defeito. Se homossexualismo é ter defeito. Alegam que Hague passou mais de uma noite no mesmo quarto de hotel de Myers. Este assessor é jovem, dono de vasta cabeleira, mais negra que a asa da graúna, olhar penetrante, espadaúdo, lábios polpudos. Christopher Myers vem mantendo, em meio a todo o fuzuê feito pela imprensa, sempre louca por um potin malicioso, um discreto e louvável silêncio. O primeiro-ministro David Cameron fez questão de alinhar-se ao lado de seu ministro do Exterior. Declarou que William Hague conta "com 100% de seu apoio". O que ele apoia não ficou muito claro. Em todo caso, acho que fez muito bem. Mais de uma vez, quando mais jovem, eu passei uma ou duas noites no mesmo quarto de hotel com um amigão, o Sérgio "Jameba". Lembro-me que Sérgio, em abril de 1959, rachou comigo um quarto com dois leitos, em São Paulo, no Hotel Londres, na avenida São João (nenhuma estrela). Estávamos em viagem de trabalho, tentando pegar uns anúncios para a então revista Propaganda. Não houve nada demais, batemos um papo e depois de apagada a luz cada um virou para seu lado e pegou no sono. Ninguém falou no caso, nada foi insinuado. Estávamos 100% certos onde jaziam nossos pendores e tendências. Bons tempos aqueles. Deixo a política e procuro ver que mais posso acrescentar a essa trabalheira que vosso feriadão está me dando. Ah, sim. Para partir do zero ao infinito, o cientista britânico Stephen Hawking afirma em seu novo livro, ainda inédito, que a física moderna descarta a participação de Deus na origem do Universo. Aparentemente, segundo o sempre brilhante Hawking, o Big Bang foi uma consequência das leis da física. Continuando nesse tom elevado, o da ciência, noto que uma equipe de físicos franceses estudou e voltou a estudar aquele célebre gol marcado pelo nosso Roberto Carlos em 1997 contra a França, em torneio realizado em Paris, e que ficou famoso pela trajetória inusitada da bola, que descreveu, no ar, um arco e deixou "sem mãe", conforme se dizia, aquele goleiro careca dos franceses, o Barthez. Ora, não era preciso elaborar equação para desvendar o mistério. Bastava perguntar para qualquer moleque brasileiro batendo bola na rua, na praia, numa ruela de morro, onde quiserem. E a "folha seca" do Didi? Ninguém pensou em termos de equação na época. Bastava apreciar as inúmeras Leonores que acabavam lá no cantinho beijando o véu da noiva. Encerro essa trabalheira de feriadão com mais cientistas franceses. Estes às voltas com a recente chuva de m**** que caiu sobre o vilarejo de Saint-Pandelon, no sudoeste da França. Não entendem o que foi que houve. Nem encontraram uma equação que explicasse. Fizeram, pragmáticos como são os franceses, análises das gotas de fezes captadas e chegaram apenas à conclusão de que não se tratava de matéria expelida por seres humanos. Como são bobos os cientistas franceses. Também bastava uma pesquisa perfunctória pelas cidades pequenas e médias desse Brasilão em tempo de independência e veriam que o fenômeno fecal caído dos céus é coisa comum, no qual ninguém mais liga ou acha graça. E agora vamos em frente que atrás vem gente. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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