Ivan Lessa: Erotica 09 em Londres

Colunista comenta uma feira erótica realizada todo ano em Londres.

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Por Ivan Lessa
Atualização:

Exposição anual de erotismos e afins. Mais ou menos um supermercado dedicado às coisas - muitas, muitas coisas - relativas à popular prática sexual. Neste ano, como nos anteriores, seus 300 e tantos estandes foram montados no Kensington Olympia, que é um imenso galpão onde exibidores (e, no caso, quando dá besteira, de exibicionistas também) expõem suas mercadorias. Fica mais ou menos perto lá de casa. Mesma linha de metrô. A District Line. Voltando do trabalho, no vagão do metrô perscruto meus companheiros de metrô, neles buscando uma deixa talvez de seu destino erotomaníaco. Têm uns que não paga dez. "Esse é freguês", sussurro amorosamente para meus botões. Não tendo jornal para ler, cansado do papo sem graça com meus botões, busco ir mais além e tentar adivinhar de que ele, ou ela, é "freguês", já que a feira sexual procura vender todos os prazeres para todos os gostos. Prazer solitário, prazer a dois, prazer a três e assim por diante. Como disse, há de tudo no Erotica 09. Eu deveria mentir e dizer que, como bom jornalista, dei uma chegada ao Erotica (tinha uma buate vagabunda no Leme com esse nome) e fui fuçar, tomar notas e passar adiante para meus sete fiéis leitores. Não fui. Sei que a mentira tem pernas curtas, embora seus lábios sejam carnudos, suas mãos conhecedoras e sua cantada é tiro-e-queda. Fiz o mais simples, embora não o mais decente. Esse o clima destas linhas. Catei nos jornais e online. Coisas, dados, impressões. Ao que parece, os visitantes à Erotica 09 desconhecem o que seja timidez. Vão de barraquinha em barraquinha como se sexo, e as coisas que a ele dizem respeito, fosse a coisa mais natural do mundo. Nós, mais velhos e vividos, sabemos o contrário, não é mesmo, companheiro? Enrubescemos só de pensar nisso que, desde criança, nos ensinaram que era "bobagem". No entanto, desde os anos 60 que a propalada - e botem propalada nisso - revolução sexual deixou todo mundo ou "sem vergonha" ou beirando a "sem vergonhice". Uma pouca-vergonha, se quiserem. Não estou aqui, no entanto, para lecionar ou pregar sermão e sim relatar. No Erotica 09, os "brinquedinhos sexuais" proliferam. Tem disso e daquilo outro, de todos os tamanhos, para tacar aqui, ali e acolá. Se é que me entendem. Tem videotape, DVD, CD, acho que até vinil, sobre o tema da exposição. Tem arte erótica, que, na verdade, são quadros, desenhos e fotos de... pois é. Tem costumes nunca vistos em nenhuma semana da moda em nenhuma parte do mundo. Tem chicote, tem máscara de couro. Tem... Enfim, tem muito mais coisa do que a baiana do famoso samba tinha. Certas pessoas, com a garantia de que só publicariam o primeiro nome, idade e profissão, admitiram - nada a ver com confessar - suas predileções para uma jornalista mais afoita do que eu. Cito-a. Por exemplo: Jo, uma jovem de 28 anos, segurança profissional (?), gostaria que o namorado a amarrasse toda enquanto alguém assistisse. Jo admite que ambos ainda não concretizaram o desejo. Dan, de 38 anos, trabalhador, é franco e simples. Para ele, basta ter mulher no meio que ele está lá. Considera-se uma pessoa arejada. Leslie, 53 anos, agricultor, fica doidinho com mulher vestida só de meias e salto alto, uma vez que, dest'arte, ela fica, sempre segundo ele, provocante à beça. Charlotte, 23 anos, modelo, não tem por onde: é conservadora. Prefere sexo à antiga. Mas queria porque queria apenas dar uma espiada nos "brinquedos sexuais". Natalie, 27 anos, babá, veio até a exposição para conferir se haveria ali algo que desse um "realce" ao seu grande prazer: fazer amor na praia. Não, não encontrou nada. Jack, 19 anos, corretor imobiliário diz que se amarra, no sentido figurado, em cílios longos. Bem longos, bem pretos. E assim por diante. Nada que ninguém jamais tivesse pensado ou praticado. A Erotica 09 faturou alto, conforme li há pouco. A cada ano, é mais tutu para a indústria sexual e os bolsos daqueles que nela investem. Não vou especular se a realização da festança nesta época do ano teve alguma coisa a ver com o Natal e o costume de dar, dar e dar presentes e depois botar, botar e botar tudo em torno da árvore. Fico por aqui antes que me dê uma coisa e eu escreva por extenso as bobagens que me vêm à mente malsã. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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