Ivan Lessa: Bobas Bodas Reais

Colunista comenta detalhes revelados sobre casamento de príncipe William.

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Por Ivan Lessa
Atualização:

Evém besteira aí. Da grossa e graúda. Casamento já é um negócio meio bobo. Enlace piora muito as coisas. Matrimônio é quando a data para a separação - escandalosa, ruidosa - já vem com os votos e as juras trocadas pelo casal de nubentes e é lida por quem oficiar a cerimônia em voz alta e empostada. Eu falei em "nubentes". Nunca conheci um casal de "nubentes" que tivesse ficado junto por mais de dois anos. A separação é acrimoniosa e sai em primeira página de jornal, quando não das ocorrências policiais. Claro que estou me referindo ao infausto acontecimento que terá lugar no dia 29 de abril na Abadia de Westminster, aqui em Londres, conhecida por sua arquitetura e por (toque, toque, toque, toque) dar um tremendo de um azar a quem lá se aventurar a contrair núpcias. Taí, "contrair núpcias" eu me esqueci de botar no meu rol de sandices arqueológicas verbais. 29 de abril. Ainda falta tempo. Muita água a deslizar por muito barranco e correr por muita terra nos quatros rincões da Terra (numas mais que as outras), mas aqui, talvez devido à euforia de uma nevasca emborrascada que veio e já se foi, não se fala em outra coisa nos meios onde rareiam os assuntos interessantes. Abramos o jogo, ingressemos Abadia adentro, façamos caras de tolos, pois já as temos se lá fomos ter, e examinar mais de perto as Bodas Reais, que é como estão chamando o casamento do segundo cavalheiro na ordem de ascensão ao trono do Reino Unido, o príncipe William, com Kate Middleton. Pena que o filme com Gregory Peck e Audrey Hepburn em inglês tenha se chamado Roman Holiday e não, como no Brasil, A Princesa e o Plebeu. Se não, já sabemos, aqui, como aí, só dariam nota a respeito com pelo menos um "o príncipe e a plebeia". Fica para outra. "Feriado Romano" só se tiver Berlusconi no meio. A cerimônia vai ser oficiada pelo general Hoyt-Phillips. Mentira, mentira, corro para não pegar prisão ou ser tratado como ditador tunisiano, Julian Assange ou policial infiltrado em meios semi-subversivos. Não quero enganar bobo algum em nenhuma casa de ovo. A cerimônia vai ser oficiada, em trajes eclesiásticos, mas nunca, nunca civis, pelo Arcebispo da Cantuária, que os ingleses, coitados, em sua ignorância e "deixa pra lá" com o resto do mundo, insistem em chamar de Canterbury. Papalvos, digo eu, papalvos, repito. Mas vamos aos fatos, se assim podemos chamá-los. Vai ser às 11 da manhã do dia que já mencionei, o sindicato que zela pelo bom andamento do metrô já considera uma greve para dificultar a vida dos turistas, do comércio e da cidade. Aqui o metrô só pode parar semana sim, semana não. Não é feito a antiga São Paulo, que não parava nunca, mas também, quando resolveu parar... O casalzinho vai de carro comum e volta de carruagem. A jovem noiva já começou a receber aulas de como acenar para a plebe rude, como a chamava o falecido Jorge Veiga. O príncipe? O príncipe principeia, pois disso é que entendem na vida. Pouco ou quase nada vai mudar em sua vida. Também não vai ficar na espreita de mamãe bater as botinas e o papai pedir o boné (aquele, o de caça) ou bater com as dez no bridge, se nesse carteado tiver disso. Não, não. Wills, como é chamado na intimidade dos tabloides, está acostumado. Foi educado para ser segundão, terceirão, por aí. Os britânicos tem uma cisma danada com a tal da vulgar realidade. Depois da cerimônia, as festas e as recepções obrigatórias. Com sorte, uma madrinha má lançará uma praga. Mas o policiamento será ostensivo e as madrinhas más, mesmo sem carregarem armas ou explosivos, estão excluídas do que promete ser um glorioso evento. Tanto é que lá estará Elton John. Evento sem Elton John não pode aspirar à condição de glorioso. Gozado, penso eu. Se ele fizesse uma terceira versão de Candle in the Wind especialmente para a feliz ocasião. Ué, ele não fez uma para Diana, Princesa de Gales, em vida, e outra, complementando, quando da tragédia em alta velocidade em Paris? Who but Elton knows? Principalmente agora que ele e o parceiro - cúmplice, companheiro, cara-metade, sei lá - passaram a ser papai e papai. De bobagem, honestamente, eu poderia desfilar aqui carregando, no focinho e na testa, como um cachorro amestrado de circo, umas duas dúzias de pratos e canecos com estampas do príncipe e da plebeia estampados em 2 cores (com 3 é mais caro e raro também). Paro por aqui. Por precaução. Sei, depois de mais de 30 anos seguidos aqui, que a torneirinha de tolices reais e bodamentais estão longe de ser consertadas. Guardo e vou soltando aos poucos. Como manda o figurino. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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