Ivan Lessa: Blam! É primavera

Colunista fala da estação do amor e dá dicas de conquistas para os leitores.

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Por Ivan Lessa
Atualização:

Os namorados vão de braços dados porque a primavera é a estação do amor. Lá está em nosso cancioneiro, capítulo "Amor", alínea "Namorados". Custou mas chegou. Temperatura entre os 15 e os 17 , solzinho razoável, roupas leves cheirando a naftalina. Para o mundo multicultural que se deslocou para Londres nos últimos anos ainda estamos sofrendo os rigores do inverno. Com o tempo, se britanizarão e poderão gozar dos prazeres de um país com quatro estações distintas. O que importa é sair às ruas e partir para as conquistas. Válido apenas para solteiros, que não quero dar sugestões erradas ("botar minhocas na cabeça", dizia eu antes de me multiculturalizar) aos casados. Segue uma pequena lista de sugestões de um homem experimentado e poliglota na linguagem de Cupido antes de partir para os "finalmentes", como dizia aquele personagem de telenovela. Falo razoavelmente português, inglês, francês, espanhol, arranho o italiano, mas ainda flui em mim, lembrança inolvidável, a mais eloquente das línguas, a do Amor. Ouçam e deem trela a quem já passou (suspiro) por isso e outras (muitas) primaveras. * A linguagem corporal é onde tudo começa. Impossível sair por aí de braços dados só porque esta é a estação do amor. Faz-se necessário, antes, a conquista. Tudo começa com e nos olhos. Mais precisamente, com o olhar copulatório. Olhe firme nos olhos da pessoa desejada. Não é preciso despi-la com os olhos. Basta conferir. Um ou dois segundos de olho no olho e o romance começa a engatinhar, a engatar, por assim dizer. * Quando se aproximar de um estranho (melhor se for uma estranha, caso você seja do sexo masculino), o objetivo é impressionar. Se espiche todo, almeje o 1m80 de altura que você tanto ambiciona. Estufe o peito, como se diante de bandeira nacional ou ao alcance auditivo de nosso hino. Arrebite o rabito. Não, não é nada de "moderno". Lembrança atávica, resquício de flertes florestais. * Ombros para trás, expressão facial descontraída. Não esqueça: olho no olho. O contato visual é sine qua non. * Iniciado um papinho (tá, pode ser "você vem sempre aqui?", não importa onde estejam), dê uma arrancada firme na expressão corporal. Postura firme, voz macia porém segura, expressão concentrada em cada palavra da senhorinha que mereceu vossa atenção. Beba de se embriagar cada palavra que ela derramar com seus deliciosos lábios carnudos. Pois assim eles devem lhe parecer. * Um pouco de timidez é de grande efeito afrodisíaco. Você parecerá vulnerável, porém acessível, que é o que conta ponto. Não exagere. Nada de ruborizar, olhar para o chão, escavacá-lo com os pés, tocar no próprio rosto com as mãos. Lembre-se que, como Lula e o filho de Rudyard Kipling, você é o "cara", você é o "homem". * Não cruze os braços ou as pernas (principalmente caso esteja de pé), não fique olhando para os lados, não se coce em parte alguma do corpo. * Importantíssimo: semicerrar os olhos e, firme, corrê-los da boca aos olhos da jovem (presumo que seja jovem, mas se não for, funciona da mesma maneira), em uma pequena e deliciosa jornada. É metafórica e poeticamente o primeiro beijo trocado entre vocês dois. Aproveite. Aproveitem. * Um homem, flagrado a flertar, tem os olhos dilatados, os polegares das duas mãos eretos (e paremos por aí) e a respiração ligeiramente ofegante. Se houver um policial nas redondezas, ele prontamente irá diagnosticar o consumo de drogas e pode sair uma cena desagradável. O risco, porém, compensa. * Conheço o lado feminino desta dança da primavera. Ou certos passos. Apenas de relatos feitos por amigas e antigas namoradas. As senhoras e senhoritas tendem a arregalar os olhos, rir por qualquer motivo, inclinar a cabeça, sacudir sem necessidade os cabelos e, com certo cuidado, abusar do tato moderado, ou palpação modesta. Nada de decotes ousados e saias justas e curtas. Basta sentar e cruzar pudicamente as pernas. Sorrindo sempre. E olha: olho no olho, hem? * Mais não sei. Também não afirmo que algum dia tenha funcionado comigo. Mas, afinal, não custa nada, né mesmo? A primavera é ou não é a estação do amor? BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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