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Ittala Nandi estréia "Vassah"

"A peça é excelente. Não há pequenos papéis. Todas as figuras que Gorki põe em cena são complexas, muito bem desenhadas, e requerem ótimos atores", diz a atriz, que atua e produz o espetáculo

Por Agencia Estado
Atualização:

Prestando tributo a uma fase dourada do Teatro Oficina, que o vento levou para as páginas da história, Ittala Nandi estréia na sexta-feira, em São Paulo, no Teatro Sérgio Cardoso, Vassah, A Dama de Ferro, drama do russo Maxim Gorki (1868-1936). Atriz dos primeiros anos da companhia resistente de José Celso Martinez Corrêa, intérprete de destaque de montagens históricas, entre elas as produções de duas peças de Gorki, Pequenos Burgueses (1963) e Os Inimigos (1965), Ittala há muito tempo queria levar para a cena Vassah, outro drama que várias vezes esteve na mira da companhia teatral da Rua Jaceguai. Para homenagear aqueles tempos - que já parecem míticos -, em que o Teatro Oficina começava a brilhar intensamente e tornava-se uma referência na vida cultural do Brasil, a atriz e produtora reuniu no palco, pessoal ou virtualmente, artistas com quem trabalhou então: os atores Fernando Peixoto, Renato Borghi e o encenador Zé Celso. Os dois primeiros estão ao vivo e em cores no elenco. A imagem do terceiro surge em uma cena filmada, assinada por Dib Luft, o célebre diretor de fotografia do Cinema Novo. A montagem, orçada em R$ 350 mil, tem cenários assinados por Hélio Eichbauer. Amplas cortinas brancas abrem espaço para uma elogiada iluminação de Aurélio de Simone. Ao jovem diretor carioca, Alexandre de Mello, de 37 anos, coube a responsabilidade de pilotar o encontro dos veteranos. Vassah procura estabelecer um diálogo com a encenação memorável de Pequenos Burgueses. Nessa montagem, o elenco, em que figuravam, além de Borghi, Ittala Nandi e Peixoto figuras como Eugênio Kusnet, Etty Fraser, Raul Cortez e Célia Helena, conduzido por Zé Celso com desenvoltura e segurança, deu vida a personagens que não pareciam pertencer à Rússia de 1908, mas ao Brasil de 1963. Os nomes e os costumes eram russos, mas os conflitos, totalmente similares aos nossos. As platéias assustavam-se ao perceber o grau de identificação que sentiam com o antigo texto teatral. "Vassah tem essa mesma qualidade", diz Ittala, que interpreta o papel-título. "É uma obra que parece ter sido escrita para este momento." Vassah, a Dama de Ferro, traduzida por Fernando Peixoto e Eugênio Kusnet em 1967, tem como protagonista uma mulher empreendedora, dinâmica, intransigente, que domina a família de modo autoritário. Vassah não atura o marido alcoólatra e devasso, Serguei Geleznov (vivido em filme por Zé Celso). Quando ele está prestes a ser julgado pelo estupro de três meninas, apesar dos milhares de rublos que mulher esbanjou para corromper polícia e juízes, ela procura convencer o marido a se matar. Ele se recusa. Mas aparece morto logo depois. Suicídio ou assassinato? A crise familiar se agrava quando volta da Alemanha a nora de Vassah, Raquel, ativista política procurada pela polícia. Raquel quer levar consigo o filho, Kólia, mas enfrentará a resistência da sogra. "Vassah é assustadora, ela não hesita em trair, corromper e matar", diz o diretor, Alexandre de Mello "A montagem de Vassah é uma filha de 33 anos, mais velha que meu filho, Giuliano, que está no elenco e tem 29", diz Ittala. "No Oficina, eu seria Natália, a filha. Quando estreamos o espetáculo no ano passado, no Rio, já tinha idade para fazer a mãe." A atriz criou o espetáculo como um trabalho escolar do Departamento de Artes Cênicas da Univer-Cidade, do qual é diretora. Na montagem paulistana é que Vassah adquiriu a configuração de encontro de velhos amigos. Aqui também se organizou um novo elenco, que inclui Renata Soffredini, Wanda Stefania e outros sete atores. "Vassah é uma personagem maravilhosa", afirma Ittala. "A peça é excelente. Não há pequenos papéis. Todas as figuras que Gorki põe em cena são complexas, muito bem desenhadas, e requerem ótimos atores." Mello, o diretor, pensou em cinema o tempo todo, ao encenar Vassah. "A peça tem um ritmo muito veloz, as cenas são rápidas, curtas." Enquanto elaborava a montagem, mergulhou "no cinema soviético, que conhecia mal. Fui estudar Eisenstein e todos os cineastas clássicos". A partir de conversas com Hélio Eichbauer, concebeu a idéia de "um espetáculo que incluiria as sombras dos atores fora de cena e, a partir disso, pensamos que seria possível ter uma cena filmada também. Decidimos mostrar em filme o único encontro de Vassah com o marido". Mello estudou "a história do Teatro Oficina na escola de teatro, e sempre foi com emoção que li sobre o grupo, vi as fotografias. Sei de sua importância". O encontro com os integrantes do velho Oficina foi importante para a montagem. "Ganhamos com a vivência deles", observa. Fernando Peixoto lembra que, na opinião de Eugênio Kusnet, mestre-ator que trouxe da Rússia para o Brasil os segredos de Constantin Stanislavski, "Vassah era a maior, a mais atual obra de Gorki. Por isso que ele quis traduzir a peça comigo". Realizaram o trabalho em 1967, em poucos dias. "Muita gente tentou montar Vassah antes de Ittala", diz Peixoto. "Eu mesmo quis produzir e, além de mim, interessaram-se Dina Sfat, Camila Amado, Tônia Carrero e Glauce Rocha. Por uma razão ou por outra, nunca deu certo, até que Ittala resolveu montar." A atriz e produtora não estava convencida de que deveria viver a protagonista da trama. Em 1997, decidida a produzir a obra, "entreguei-a a Fernanda Montenegro, a quem convidei para viver Vassah. Fernanda já conhecia o texto, mas releu. E respondeu: "A peça é genial, a personagem é genial, mas eu não vou aceitar, porque quem deve fazer esse papel é você. Ele é seu. Faça." Ittala Nandi obedeceu à ordem da primeira-dama do teatro brasileiro. A montagem, que dura 1h40, com intervalo de 10 minutos fica em cartaz em São Paulo até 23 de setembro. Vassah, a Dama de Ferro. De Gorki. Direção Alexandre de Mello. Duração: 1h40. Quinta a sábado, às 21 horas; domingo, às 18 horas. R$ 10,00 (quinta); R$ 20,00 (sexta e domingo) e R$ 25,00 (sábado). Teatro Sérgio Cardoso. Rua Rui Barbosa, 153, tel. 288-0136. Até 23/9. Patrocínio: Petrobras BR

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