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Itens de segurança viram apetrechos divertidos para as crianças na escola

Coleção de máscaras, estojo e potinho de álcool em gel ganham decoração infantil e deixam os protocolos mais leves

Por Luisa Paiva
Atualização:
Estojos para máscaras de proteçãoe fracos de álcool gel com decorações temáticas fazem parte do dia a dia dosalunos do Colégio Agostiniano SãoJosé, na zona leste de São Paulo, que tem nesses objetos apetrechos lúdicos, no retorno presencial às aulas Foto: Marcelo Chello / Estadão

A entrada da escola está diferente. Os abraços foram substituídos por toques de cotovelo e cumprimentos com o pé. Tem medição de temperatura, toten de álcool em gel e tapete sanitizante. Não entram brinquedos trazidos de casa. Porém, os novos itens da lista de material escolar – máscaras, estojo para máscaras e potinho de álcool em gel –, já fazem parte da rotina das crianças e se tornaram apetrechos divertidos, com estampas engraçadas e personagens, que ajudam a incorporar os protocolos de segurança contra o coronavírus com leveza e efetividade.

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O Colégio Agostiniano São José, na Zona Leste de São Paulo, fez uma parceria com o Hospital Albert Einstein para treinar a equipe, adaptar o ambiente e desenvolver o protocolo de conduta com as crianças. Uma liga de super-heróis foi criada para ensinar aos alunos a importância das medidas de segurança e os personagens estão em vídeos, histórias em quadrinhos e em cartazes espalhados por todos os ambientes. “Tínhamos medo se elas iam ficar com a máscara, mas as crianças já chegaram muito adaptadas”, conta Juliana Magalhães, 44, coordenadora pedagógica da educação infantil

Para as crianças, que ficaram quase um ano isoladas e estão voltando a ter contato com os colegas, tudo é novidade, inclusive a coleção de máscaras, pois é necessário levar para a escola no mínimo três unidades por dia. “As crianças podem deixar a máscara cair no chão, sujar, molhar, suar, são ocasiões para fazer a troca. E mesmo que ela se mantenha limpa, a cada 3 horas precisa ser trocada”, explica Joel Bressa da Cunha, presidente do Departamento Científico de Saúde Escolar da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)

A aluna Luisa Molina com seu material escolar: o estojo para máscaras sujas e limpas faz parte do novo protocolo das escolas nesta volta às aulas presenciais Foto: Marcelo Chello / Estadão

De acordo com o pediatra, tratar o uso da máscara com leveza e incentivar que seja divertido pode ajudar a sensação de segurança no retorno dos pequenos para o ambiente escolar. “Isso pode ser orientado pelos professores e em casa pelos pais de uma forma bem lúdica, bem trabalhada, até como uma brincadeira, uma forma de interação que já é esperada pela criança no ambiente da escola. Recomendamos que a criança participe da escolha da máscara, as cores, o modelo, o desenho. Isso pode ser um fator que motive a criança a diminuir a sensação de medo”. 

Até mesmo o incômodo que o uso da máscara pode causar e o inconveniente de manter o distanciamento pode ser contornado com atividades divertidas. “Se a ideia for trabalhada de forma lúdica, as crianças incorporam isso com mais prazer. Por exemplo: que outros tipos de máscara se usa, para que servem, usar os recursos de desenhar, de buscar imagens, de recortar e colar... de tal forma que eles passam a tratar a máscara com uma intimidade, com gosto, como algo que está sendo usado de forma interessante e lúdica. As crianças pequenas acham um barato estudar máscaras e depois usar. Atividades que tirem o foco da máscara também acabam sendo uma distração e eles não se dão conta de que estão usando. Compensa o incômodo estar num ambiente alegre, divertido, com outros atrativos”, aponta Joel. “É importante não forçar o uso da máscara pelas crianças, elas devem encarar como uma coisa positiva e não como uma imposição”, ressalta.

A aluna Camila Sommer, 5, mostra a máscara de proteção enfeitada por ela ao lado da professora Larissa Pagliarde Foto: Marcelo Chello / Estadão

Ao regressar para o ambiente escolar, Camila, 5, já estava habituada ao uso da máscara. A mãe, Christiane Sommer Calabria, 42, contou como foi a adaptação. “No começo do isolamento foi difícil para todo mundo. Para introduzir a máscara, peguei pedaços de tecido das cores que ela gosta e, de forma lúdica, começamos a montar em casa. Conforme ela experimentava, dizia: ‘olha mamãe, que lindo’, ficava cinco minutos e tirava. Foi tudo uma adaptação. Saía de casa, já colocava a máscara e dizia que era para o bichinho não entrar. Quando voltou para a escola, já estava adaptada”.

Embora a máscara já fizesse parte da rotina, Christiane providenciou um novo kit para Camila levar na escola. “Para as máscaras limpas, tem uma necessaire com identificação, e coloquei um saquinho descartável para a máscara suja, que troco todo dia. As máscaras, eu compro para ela, não consigo levar ela junto para escolher, mas eu sei do que ela gosta. Ela gosta de rosa, de princesa, aí ela ganha a máscara e acha maravilhosa. Ela coloca e adora. Mas eu não mando o potinho de álcool em gel porque tem na escola. Seria mais uma preocupação”, conta a mãe, que, em vez de comprar o kit numa loja, improvisou uma necessaire que ela já tinha e a filha gostava.

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A aluna Camila Sommer, 5, retornou às aulas do Colégio Agostiniano São Joséadaptada ao uso da máscara e do álcool em gel Foto: Marcelo Chello / Estadão

Hora do Lanche

Um dos momentos mais estudados na nova rotina do Colégio Agostiniano São José foi a hora da refeição, em que também é realizada a troca da máscara. Os pequenos comem em um refeitório, com as mesas distantes e higienizadas. O lanche pode vir de casa ou da escola, em embalagens descartáveis. A professora da Camila, Larissa Borges Benedito Pagliarde, 32, conta que seus alunos curtem o novo ritual

“Eles gostam desse momento, trazem as máscaras e estojos dos personagens e querem mostrar para os amigos. Tem esse ritual da hora do lanche, quando tira a máscara, põe num saquinho, higieniza as mãos para lanchar, depois coloca uma máscara limpa. Eles têm autonomia vigiada para fazer esse processo sozinhos. E já sabem: se sujar a máscara ou sentir que está úmida antes da hora da troca, pedem para trocar. Você percebe que não há sofrimentos, eles estão tirando proveito de toda a situação. Ninguém quer ser diferente dos outros e ficar sem a máscara. Além disso, tem bolsinha personalizada, potinho de álcool, máscaras de personagens, eles adoram exibir os materiais novos”, diz a docente do 4º ano da educação infantil

Ela afirma que, apesar de toda ludicidade com que é tratado o assunto, as crianças têm consciência do motivo dos protocolos. “Eles também sabem que tudo isso faz parte de um protocolo de segurança e que é para o bichinho não entrar, para não ficarem doentes. Falam dos noticiários, que a vacina chegou, que os avós estão tomando a vacina. Eles mesmos trazem os assuntos para a sala de aula”.

A coordenadora pedagógica Juliana Magalhães acompanha a hora do lanche no refeitório, onde é feita a troca de máscaras Foto: Marcelo Chello / Estadão

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Para evitar que a máscara se perca ou seja confundida pelas crianças, Joel Bressa recomenda que os pais identifiquem os saquinhos e as máscaras dos seus filhos. “É importante colocar nome na máscara porque elas estarão num ambiente coletivo e a máscara é de uso individual, até para os professores saberem de quem é, observarem que não haja troca e devolver corretamente”, pontua. A marcação na máscara pode ser feita com caneta para tecido ou ter o nome costurado, desde que a costura fique na lateral para que não haja furos na parte que protege o rosto.

Outro artifício usado para evitar a perda ou queda da máscara é a cordinha para prender. Pode ser improvisada com uma corrente para óculos e existem também as versões decoradas, de missangas coloridas, de personagens e com o nome da criança. Porém, o pediatra alerta que o uso do apetrecho seja acordado com a escola. “Para a escola pode ser um complicador cuidar de outros artifícios como prendedores, cordinhas, ainda mais agora com o rodízio de crianças por sala, o ensino híbrido, parte presencial e parte remoto. Mas vale a experiência, ver como funciona. Em um grupo pode funcionar muito bem, e em outro pode não precisar”.

Na sala de aula da professora Larissa Pagliarde, as crianças de 5 anos mantém o distanciamento e fazem a higienização das mão e dos materiais usados na aula presencial Foto: Marcelo Chello / Estadão

Uso efetivo da máscara

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Conforme explica Joel Bressa da Cunha, a partir de 2 anos, as crianças podem usar máscaras, mas seu uso não é tão efetivo. Já as crianças de 6 anos ou mais tem uma maior qualidade no uso. "Preferimos incentivar o uso da máscara a partir de 2 anos, que é a idade permitida, com todos cuidados com a segurança, sob observação. Quanto menor a criança, menor é a qualidade de uso, é melhor do que a gente imaginava, mas não é perfeito. Acontece que quanto menor a criança, menor o risco. A escola só vai receber quem não tem sintomas e as crianças menores têm menos risco de adoecer e de transmitir a doença. Já as crianças maiores e os adolescentes, que têm maior risco, usam bem a máscara”, afirma.

É importante que os pais mandem pelo menos três máscaras e que elas sejam bem ajustadas ao rosto da criança. Segundo  o especialista da SBP, a máscara apropriada é a que cobre o nariz e o queixo, que não fique folgada dos lados, de preferência, tecido de algodão, que tenha no mínimo duas camadas, e que sejam fáceis de tirar e de colocar. “Já o modelo, se é de elástico que passa na cabeça ou na orelha, não faz diferença, o importante é estar adequada para a criança e como ela se sentir mais à vontade. O melhor é que não seja de amarrar para crianças pequenas porque vai precisar do auxílio do adulto”, pontua.   

No ensino fundamental do Colégio Agostiniano São José, as crianças fazem um lanche de 15 minutos na própria sala de aula. Nesta faixa, o potinho de álcool em gel é mais um dos apetrechos decorados. A professora Flávia Arruda, do 5º ano, dá aula presencial para sete alunos por vez, enquanto o restante assiste online. “Antes do lanche, eu sempre repasso com eles o procedimento e distribuo o álcool em gel. Nessa hora eles gostam de pegar o potinho deles, que vai pendurado do lado de fora da mochila”, conta. "A cantina está fechada e eles não podem descer para o pátio porque a situação pode ficar incontrolável. Eles já têm entre 9 e 10 anos, são mais independentes”, diz. As crianças também não podem interagir com outras turmas, pois são separadas por “bolhas”, assim se houver algum caso de covid-19, apenas os alunos pertencentes àquele grupo entram em uma quarentena de duas semanas. 

Flávia conta que seus alunos usam duas máscaras por dia, exceto nos dias em que tem educação física, que é preciso uma extra. “Eu vejo muitas máscaras engraçadas, de caretas, de pirata, de personagens. Muitas vezes eles vem com uma de pano no rosto e depois trocam por uma descartável. Eu faço o mesmo com meus filhos, é muita máscara para lavar”, brinca a professora.