11 de abril de 2012 | 03h08
Em 2005, o cineasta Fatih Akin realizou um ótimo documentário sobre a música de Istambul, Atravessando a Ponte. Concluiu que - apesar de mostrar as diversas tendências, entre a tradição e a modernidade - era impossível realizar um completo painel sonoro da cidade em constante mutação. O compositor e músico Ilhan Ersahin, um dos curadores do evento Istambul Agora, que começa hoje no Sesc Pompeia e segue até o dia 22, concorda com ele. "É uma grande cidade e uma enorme cena com vários artistas e estilos. A diferença entre as escolhas de Fatih e as nossas é que não mergulhamos na música mais tradicional e popular, nem no pop-rock nem nos músicos de rua. Seria muito difícil e caro trazer todo o espectro musical de Istambul", diz o saxofonista, que vai se apresentar com dois de vários seus projetos, Wonderland e Istanbul Sessions, nos sábados, dias 14 e 21.
"Procuramos basicamente trazer bons artistas que representem o que está acontecendo hoje na Turquia, artistas interessantes que mesclam elementos turcos com seu som original", diz Ersahin. A noite do Wonderland terá vários DJs, que representam a vasta cena noturna de Istambul. "Os que escolhemos são DJs que misturam música de pista com música turca, mas principalmente sons dos anos 70." Entre os artistas convidados estão a cantora regional curda Aynur Dogan, o grupo Baba Zula - ambos contemplados no filme de Akin - e os DJs Baris K e Jonny Rock.
Considerado um artista "sem raiz", nascido e crescido na Suécia, Ersahin tem duas bandas em Istambul, que passou a frequentar e onde tem família, começou a tocar aos 15 anos e lançou recentemente o CD Afternoon in Rio, com participação dos cariocas Nina Becker, Thalma de Freitas e Kassin, entre outros. Sediado em Nova York desde os 20 anos, criou lá o selo de jazz e o clube Nublu, que também já teve festival no Sesc. Vem daí sua ligação com Talita Miranda, parceria na curadoria de Istambul Agora.
Ambos enfatizam a ideia de ligar Istambul a São Paulo, por diversos aspectos, desde o boom econômico por que passam Turquia e Brasil até a cena musical alternativa em plena efervescência. Ponto estratégico entre a Europa e a Ásia, Istambul, antiga Constantinopla, é uma das cidades mais incríveis do mundo, a única cidade dividida entre os dois continentes, com paisagens e arquitetura deslumbrantes e um mix cultural entre o supertradicional e o ultramoderno.
"São Paulo está para a América do Sul o que Istambul é para o Oriente Médio hoje, assim como Nova York, para a América do Norte", compara Talita. "O festival procura traçar esse paralelo com São Paulo, por ser tão caótica e abundante de pessoas com olhar diversificado e voltado para o mundo quanto Istambul", diz.
Embora toda manifestação artística dos turcos traga de certa forma uma raiz tradicionalista, o que o festival procura é fugir dos estereótipos, trazendo artistas que "conseguem criar novas tendências e mostrar uma autenticidade e uma originalidade dentro desse caos", segundo Talita. "Num certo sentido, é um recorte um pouco underground, mas ainda assim bem representativo da arte contemporânea deles."
A música é o aspecto mais forte do festival, que também traz dança, com performances de Zyia Zazi, que já esteve no Brasil, e Filiz Sinzanli, mais contemporânea, mostra de fotografia do renomado Ara Güler ("uma espécie de Sebastião Salgado turco"), intervenção artemídia do coletivo Laborg e instalações de vídeos de cinco artistas. Uma das atrações é um vídeo de Hüseyin Bahri Alptekin (1957-2007), que Talita compara com um Cildo Meirelles e Helio Oiticica.
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