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Ismael Nery chega, centenário, a São Paulo

Por Agencia Estado
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Ismael Nery é figura fundamental no modernismo brasileiro. Polêmico, teve uma carreira inquietante e sucinta no meio artístico que não entendia a união de catolicismo e sensualismo presentes em suas poesias, pinturas e desenhos. Em dez anos de carreira, fez cerca de 100 quadros e inúmeros desenhos. Não vendeu um sequer. E se isso era um teste, Nery suportou, sobrevivendo com o salário de desenhista do Departamento de Arquitetura do Patrimônio Histórico Nacional. Só não resistiu a uma dolorosa úlcera na glote e na laringe. E em abril de 1934, morreu, aos 33 anos, de tuberculose. Hoje seus quadros chegam a valer até U$S 1 milhão, segundo a curadora Denise Mattar, que dedicou mais de um ano de pesquisa na vida e na obra dessa figura tão fascinante, para montar a exposição Ismael Nery 100 anos - A poética de um Mito, aberta neste sábado, na Faap. A mostra pretende divulgar e integrar suas várias facetas: de poeta, de desenhista e de pintor. Denise acomodou as cerca de 158 peças em quatro módulos. O primeiro O Eu e o Outro é onde se evidência a relação de Ismael com os poetas Murilo Mendes e Adalgisa, sua mulher, e a busca das diferentes identidades do Eu. Em Imagem e Semelhança estão os 45 óleos de Nery, reunindo vários grupos de obras de figuras, nus e a descrição de sua doença, sem ordem cronológica. Memória reúne a cronologia do artista e uma instalação sonora com poemas de Nery, Murilo e Adalgisa nas vozes de Murilo Rosa, Cristhiane Torloni e Bruno Garcia. Neste núcleo está também o curioso álbum de família. Nery, o Virtuose mostra 100 desenhos do artista reunindo analogicamente: a influência de Beardsley, a homenagem a Marc Chagall, os circuitos, arquiteturas, figurino, costumes e a enfermidade. A poética de um Mito é a última da trilogia - que começou em 1999 com Di Cavalcanti e logo depois com Flávio de Carvalho, conquistando o prêmio de melhor retrospectiva do ano, pela Associação Paulista de Críticos de Arte. Todas foram uma homenagem ao modernismo e um resgate à memória dos pintores brasileiros. "Estou cuidando dos velhinhos", resumiu Denise. "Eles (Di Cavalcanti, Flávio de Carvalho e Ismael Nery) tiveram em comum um talento que extrapolava os limites das artes plásticas e alcançava a poesia, a filosofia e outras áreas. Foram personagens brilhantes e fora do comum. Possuíam personalidades polêmicas que angariaram amores e ódios com a mesma veemência. Para os três o ser era a grande questão", afirma a curadora. A exposição também traz outra novidade. Uma coreografia criada por José Possi Neto, fazendo um contraponto ao número que marcou a vida do artista modernista: 33, idade que tinha quando morreu e que seria a mesma em que seu pai teria morrido. O mesmo número também foi dito seguidamente durante os três anos de exames pulmonares. 33, a peça, pode ser vista de terça à sexta, às 18 horas, e nos fins de semana, às 16h e 17 horas. Ismael Nery - de terça a sexta, das 10h às 21 h; sábado e domingo, das 13h às 18 h no MAB/Faap, rua Alagoas, 903. Tel. 3662-1662 r: 1123/1171. Até 1º/10

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