08 de novembro de 2012 | 02h12
Brilantê, Marcô, Bob Uilsón. Como boa francesa, Isabelle Huppert acentua os nomes de uma forma que soa estranha aos ouvidos do repórter, como soaria para qualquer brasileiro. Ela fala de seus diretores. Brillante Mendoza, com quem fez Captives, que estreia amanhã como Em Nome de Deus; Marco Bellocchio, que dirige A Bela Que Dorme, e o filme ganhou o prêmio da crítica, na Mostra, há exatamente uma semana. Admira-se de saber que Bob Wilson está na cidade. Não é uma admiração de espanto. É o reconhecimento de que há, aqui embaixo - da Linha do Equador -, um público exigente e sofisticado.
Ela lembra que Em Nome de Deus começou a nascer em São Paulo. Como presidente do júri de Cannes, já conhecia o filipino Brillante Mendoza e lhe outorgara o prêmio de direção por Kinatay. Reencontraram-se em São Paulo, onde ele participava de uma retrospectiva de sua obra e ela, da montagem de Bob Wilson para Quartet, Quarteto. "Em Cannes, já havíamos manifestado o desejo de trabalhar juntos, mas havia sido uma coisa pro forma. Poderia ter ficado só numa troca de gentilezas, se não tivéssemos nos reencontrado em São Paulo. Ele me falou desse caso de sequestro que ficou célebre nas Filipinas. Os reféns, a maioria mulheres, pertenciam a uma instituição religiosa e benemerente. Embrenharam-se na selva. O resgate foi um fracasso e alguns reféns foram mortos pela equipe de resgate, não pelos sequestradores."
Isabelle Huppert fala sobre diretores
Brillante já tinha uma ideia do filme que queria fazer. "Ele é um diretor muito físico, que faz um cinema da epiderme e da urgência. Mas o tema da religião, em Em Nome de Deus, lhe permitiu avançar sobre áreas mais intimistas e até transcendentais. A dúvida, a crença, o sacrifício." Foi um filme difícil de fazer. Isabelle não fala em dificuldade material - "Para isso você teria de falar com Brilantê". Fala em dificuldade física, os dias e noites na selva, os insetos, o calor. "C'était un chauchemar". Foi um pesadelo, mas ela não se queixa.
Depois de Em Nome de Deus, fez o Bellocchio na Itália, A Bela Que Dorme, de novo o tema da religião, mas aí as condições já eram diversas, de volta à Itália. E emendou com In Another Country, que fez com o coreano Hong Sang-soo (e que teve sua estreia mundial em Cannes, em maio). Filipinas, Coreia, o que há de tão atraente em trabalhar com diretores de outras cinematografias, outras culturas? "É sempre o encontro. O papel, o autor. O cinema é o mesmo país em todo lugar", garante, com a segurança de quem sabe.
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.