<i>Querelle</i> acha abrigo no centro de SP

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Por Agencia Estado
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Ferrenho freqüentador de cinemas, o diretor catarinense Jairo Maciel, de 43 anos, conta que poucas vezes ficou impressionado com um filme como quando assistiu a Querelle, de Rainer Werner Fassbinder, em 1982. " Fiquei completamente extasiado e não sosseguei enquanto não devorei a obra de Jean Genet, que inspirou o filme, e, ainda não satisfeito, escrevi a minha versão para o teatro", comenta. A espera foi longa, a busca por um espaço foi tortuosa, mas, na quinta-feira, Maciel finalmente acompanha a estréia de Querelle - O Anjo da Solidão, com atores do Grupo Caminhando de Teatro, do qual foi um dos fundadores há 17 anos, em Florianópolis. Em seus estudos, o diretor buscou a marginalização que marca a história de Querelle, um marinheiro que retorna à sua terra e conturba o ambiente do prostíbulo comandado por Madame Lysiane e seu marido, Nonô. "Por isso, eu precisava de um ambiente marginalizado para realizar o espetáculo", comenta Maciel, que escolheu o teatro Studio, localizado em um ponto maldito do centro antigo (Rua Aurora). A região, aliás, já lhe era familiar - no ano passado, Maciel montou "Dois Perdidos numa Noite Suja", de Plínio Marcos, no teatro em frente que, como o Studio, é especializado em shows de sexo explícito. "É o ambiente perfeito; quero trazer a escatologia que rodeia essa região para dentro do palco." O filme de Fassbinder é decisivo na montagem de Maciel - como vai utilizar duas plataformas laterais suspensas, além do palco principal, o diretor não se preocupa que determinadas cenas, representadas ali, não sejam visíveis para o público, dependendo da posição do lugar. "É proposital, pois, em determinados momentos do filme, não se vê o personagem que está falando, apenas se escuta sua voz." Enquanto na obra de Fassbinder a cidade de Brest é reconstituída em um gigantesco cenário, que tira seu estímulo pecaminoso a partir de uma artificialidade exagerada, a montagem de Maciel será mais física, contando até com uma coreografia específica. "Espero que o espectador reflita sobre a própria existência a partir dos atos dos atores, principalmente quando a cena incomodar." As plataformas foram um benefício concedido pelo proprietário do teatro, Rubens Rodrigues, que aproveita a montagem de Querelle para iniciar uma ampla reforma no espaço. "Terei um minimunicipal", conta Rodrigues que, além da platéia normal, construiu balcões e mezaninos. Com isso, a capacidade vai aumentar de 100 para 300 lugares. "Estou colaborando com a recuperação do centro", comenta o proprietário, que já investiu mais de R$ 100 mil na ampliação. Para que o retorno financeiro seja rápido, Rodrigues não mediu esforços - convidou o ator Matheus Carrieri para participar da peça, em que interpreta Robert, o irmão com quem Querelle mantém uma relação de amor e ódio. "Gostei do projeto e, como espero o momento para reencenar Camila Baker, decidi aceitar", conta o ator, o único nome conhecido do elenco. A euforia com o projeto é tamanha que Maciel e Rodrigues já planejam a próxima montagem: uma versão de Laranja Mecânica. "É o expoente máximo da violência", comenta o diretor.

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