Internet vira arma contra baixaria na TV

Site traz os programas campeões de reclamações e, no futuro, vai mostrar também quem são os anunciantes que ajudam a mantê-los no ar. Anote o endereço: www.eticanatv.org.br

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Por Agencia Estado
Atualização:

Desde quarta-feira o telespectador tem um ombudsman. Quem não agüenta mais o domínio de glúteos femininos sacolejando nos domingos ou não suporta os "barracos" por conta dos testes de DNA das atrações de auditório, pode colocar a boca no trombone. Ou melhor: os dedos no teclado. Entrou no ar anteontem o site da campanha Quem Financia a Baixaria é contra a Cidadania, da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. No endereço www.eticanatv.org.br, há um espaço para o telespectador reclamar dos abusos cometidos por produtores que não têm limites para obter pontinhos a mais no Ibope. Também no site, o telespectador que quiser estudar a fundo o tema televisão encontrará artigos e pesquisas sobre o veículo. Em vigor há três meses, a proposta da campanha é dar um puxão de orelha nos programadores que cometem excessos. Como armas, a divulgação de rankings com os piores programas e, em casos extremos, a publicação também da lista dos patrocinadores das atrações-baixaria. No mesmo dia em que o site entrou no ar, a Comissão se reuniu para definir os próximos passos do projeto. "São 19 relatores que, a partir das denúncias dos telespectadores, vão inicialmente monitorar os programas. Depois, vão entrar em contato com os produtores e, ao final, elaborar um relatório que será discutido em uma reunião com todos os membros do projeto", explica Laurindo Leal Filho, diretor da ONG TVer, um dos membros da Comissão. A emissora que transmite o programa-baixaria será notificada algumas vezes. Caso continue com a mesma postura, a Comissão vai apelar para os patrocinadores, alertando-os de que se trata de uma atração de má-qualidade. E se os anunciantes continuarem apoiando a atração, vai sobrar para eles também: no site, será publicada uma lista com o nome das empresas e o lema da campanha, "quem financia a baixaria é contra a cidadania". Na última quarta, foi divulgado um segundo levantamento com as denúncias dos telespectadores. Essas mensagens chegaram por e-mail e por telefone na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados antes do site oficial da campanha entrar no ar. Encabeçando a lista estão João Kléber e Ratinho - o segundo perdeu a liderança para o colega da RedeTV!. Na seqüência surgem Sérgio Mallandro, Fausto Silva e Gugu Liberato. Logo atrás estão Xuxa, Raul Gil e, empatados, os programas Malhação e A Hora da Verdade, de Marcia Goldshmidt. O projeto está só começando e, por isso, o volume de sugestões ainda não é grande. No Brasil, o número de telespectadores gira em torno de 60 milhões (segundo levantamento da Rede Globo) e até o momento, a Comissão recebeu apenas 300 mensagens de pessoas revoltadas. Desse número, apenas 60 se voltaram contra um programa específico. João Kléber, o líder da lista, por exemplo, recebeu apenas nove votos. O elogiado infantil de Xuxa, No Mundo da Imaginação, ganhou mais reclamações (no caso, quatro) do que o duvidoso A Hora da Verdade de Marcia Goldshmidt, que apresenta nas tardes casais se esbofeteando e testes de DNA e foi lembrado apenas por duas pessoas que deram seu voto. "Nesses e-mails não há uma crítica objetiva e sim denúncias vazias", critica Luis Erlanger, diretor da Central Globo de Comunicação. O novo líder da lista negra, João Kléber, defende-se: "Há tempos que venho reformulando o Eu Vi na TV e o Canal Aberto. Eles agora se baseiam no humor, musicais e em concursos, como o Concurso da Lacraia, que premia o dançarino que fizer a melhor coreografia da Egüinha Pocotó." "Fico muito triste por ter perdido a liderança", ironiza Ratinho, que até mês passado encabeçava a lista. A comissão se defende, afirmando que não vai seguir apenas a denúncia dos telespectadores. "Vamos estudar as atrações, entrar em contato com os produtores. Mesmo um programa não lembrado pelo público poderá ser investigado caso algum membro da comissão decida assim", diz o deputado Orlando Fantazzini, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara.

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