Paralelamente às festividades de comemoração ao Dia da Consciência Negra, estiveram reunidos nos últimos dois dias em Maceió intelectuais e representantes de grupos para preparar mais um documento de uma das oito pré-conferências que estão sendo realizadas visando a elaboração de um documento brasileiro que será apresentado na Conferência Mundial das Nações Unidas, na África do Sul, em 2001, e que vem sendo chamada de Conferência de Combate ao Racismo. Aqui, a discussão foi em torno do "Direito á Informação Histórica". Um dos convidados especiais, o diretor da Escola de Arquitetura e Design da Howard University, de Washington, Victor Dzidzienyo, em entrevista à Agência Estado, defendeu a necessidade de conhecimento das "nossas heranças existentes nas nações que têm algo em comum, lembrando que o Brasil é um dos maiores países em população negra e a necessidade de descobrir nossa história antes da escravidão, não só no Brasil como em todo o mundo." Segundo Dzidzienyo, antes da escravidão existia uma instituição cultural, que foi rebaixada a um nível inferior depois da escravidão. Nesse momento de virada de século e de globalização ele entende que devemos deixar essa diferença de lado e refazer o "link" com a África antes disso. E inclusive olhar para o lado positivo da escravidão, destacando o papel do negro na construção do Brasil. Olhar com respeito e admiração para esse tempo, daí a importância da documentação histórica e das pesquisas que começam a ser divulgadas nesse sentido. "Diferentes culturas fizeram o Brasil. Todos têm parte nessa sopa e estão desconsiderando a porção negra dessa sopa. É preciso consertar isso no próximo milênio", diz. Ele defende que se faça um registro histórico e oficial sobre a presença negra no Brasil. Assim como está sendo feito nos Estados Unidos. "Só este ano em que a América comemora os 200 anos da construção da Casa Branca é que estão sendo divulgados documentos sobre os escravos negros que a construíram. Pouca gente sabia que aquele edifício foi obra de escravos negros. A Unesco começou a incentivar a pesquisa dessa documentação e isso é muito importante para as novas gerações". Dzidzienyo gosta de contar uma historinha sobre o hábito de comer dos diferentes povos. "Os europeus usam garfos e facas, os orientais os palitos e os negros os dedos, o que sempre foi visto pejorativamente. Desde a disseminação da cultura oriental as pessoas se orgulham de mostrar aos amigos como são hábeis ao usar os palitinhos para comer, enquanto o africano é visto como o homem das cavernas. Mas há uma sensibilidade nas pontas dos dedos, ele manipula aquela comida, sente sua textura, é preciso saber tomar sopa sem deixar cair uma gota sequer, tem semelhança com o trabalho artesanal. É uma arte de comer diferente. A forma de comer africana é a forma da arte".