Instituto Tomie Ohtake, novo centro de cultura de SP

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Por Agencia Estado
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Um centro cultural polivalente, com espaço privilegiado para as artes plásticas, mas que também terá ampla área dedicada ao teatro, ao cinema e à música, está prestes a surgir em pleno coração de São Paulo. O Instituto Tomie Ohtake, que está sendo erguido num quarteirão estratégico situado entre a Rua Pedroso de Morais e a Avenida Faria Lima, é uma produção familiar, que beneficiará uma população carente em espaços do gênero. A estréia está prevista para meados do ano que vem. Idealizado e coordenado por Ricardo Ohtake e projetado por Ruy Ohtake, o centro pretende cunhar um novo modelo de espaço cultural, flexível e aberto às manifestações de vanguarda sem deixar de lado a reflexão teórica. A idéia é trabalhar com o período que vai de 1952 - início da carreira de Tomie - até os dias de hoje. Haverá espaço para um grande número de expressões artísticas, mas evidentemente será reservada uma área importante para obras de Tomie, uma das mais renomadas artistas plásticas brasileiras e um dos raros nomes de nossa cultura a receber uma homenagem do gênero. Hélio Oiticica e Iberê Camargo (para quem está sendo construído um museu em Porto Alegre) têm instituições dedicadas à sua obra, mas ambas foram criadas longo tempo depois de eles morrerem. Só foi possível tornar viável esse projeto graças à parceria de longa data entre Ruy e o laboratório Aché, proprietário do terreno e dos prédios que estão sendo construídos para locação de escritórios. Este é o oitavo projeto realizado pelo arquiteto para a empresa e foi essa proximidade que tornou possível reservar uma área importante (de 9,8 mil metros quadrados) para possibilitar um projeto longamente acalentado pelos irmãos Ohtake. Os cinco pavimentos do instituto serão cedidos em comodato, por 30 anos. Victor Siaulys, um dos proprietários do Aché, foi colega de Ruy e chama Tomie de "minha mãe japonesa". "A idéia tem uns oito anos, mas o instituto nasceu no papel em 1994", conta Ricardo, que será responsável pela gestão do Instituto. Atual secretário municipal do Verde, ele pretende criar um centro dinâmico e polivalente, capaz de refletir a cara de São Paulo. "Um lugar como esse não pode ser fatiado demais; não queremos que fique só de uma tribo." Para ajudá-lo, ele convidou pessoas de grande prestígio em suas áreas de atuação. A programação de artes plásticas ficará a cargo do crítico Agnaldo Farias, que acaba de deixar a prestigiada curadoria do Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio porque sua licença na Universidade de São Paulo chegou ao fim. E para dirigir a área de artes cênicas foi convidado o fundador do Grupo Corpo, Emilio Kalil, que já dirigiu os Municipais do Rio e de São Paulo. Parcerias com empresas da área cultural devem ser estabelecidas para o gerenciamento dos vários espaços pensados pelos Ohtakes, como restaurante, bar, cinema, livraria e uma loja de design. Ao projetar o edifício que abrigará o instituto, Ruy Ohtake - que já teve pela frente o desafio de projetar a casa-ateliê de sua mãe - procurou imprimir ao prédio características que atribui a Tomie. "Quis que o espaço central fosse muito forte", explica. O centro tem um corpo independente e sinuoso, na base da grande torre de vidro. A idéia é fazer do hall central um lugar movimentado, barulhento. "É ele que segurará todas as atividades, todos os espaços do instituto", diz. Outro aspecto intimamente ligado a Tomie é o uso de uma grande luminosidade, já que a questão da luz e da transparência é vital em sua pintura. "Esse é o jeito dela", diz. Todo o conjunto arquitetônico (composto por dois prédios com 6 e 22 andares de escritórios para locação) traz a marca registrada de sua arquitetura. "Procurei fazer as três unidades a partir da lei arquitetônica que tenho: criar formas instigantes, com curvas que provoquem algumas surpresas e sejam o máximo possível ligadas à arte", explica o arquiteto. Ele também lançou mão de cores alegres, como amarelo-gema e rosa magenta. Qualquer identificação com a arte de Tomie não é mera coincidência. Pavimentos - Ao todo são cinco pavimentos. No térreo haverá mais de 1,2 mil metros quadrados dedicados à arte (parte deles dedicados à obra de Tomie). Para a estréia, Farias está preparando duas mostras: uma retrospectiva de Tomie - com lançamento de um alentado catálogo sobre sua obra - e uma exposição contando a história da arte brasileira a partir da década de 50. Um pouco abaixo do nível do solo haverá outras salas para a arte contemporânea, biblioteca, serviços como restaurante e bar, além de quatro ateliês. No primeiro pavimento foi criado um espaço múltiplo de 324 metros quadrados, que pode ser transformado de acordo com o espetáculo a ser montado. As cadeiras são retráteis e é possível transformá-lo em teatro elisabetano, teatro de arena, etc. "O Beaubourg e o National Theatre de Londres têm salas desse tamanho", explica Ricardo, que realizou com o irmão uma série de pesquisas e viagens para descobrir o que há de mais moderno em arquitetura para instituições culturais. O custo de manutenção será de cerca de R$ 3,5 milhões ao ano. Ainda existirão duas outras salas de espetáculo no prédio. No quarto andar haverá um auditório de 214 lugares que durante o dia será alugado para empresas (outras áreas do instituto serão cedidas em locação) e à noite será transformado em um cinema para filmes de arte. E, finalmente, no quinto andar haverá um grande teatro, de 722 lugares, com elaborada acústica, adequada até para ópera. "São Paulo tem muitos teatros com menos de 500 lugares e outros com mais de mil; é uma faixa que falta em São Paulo", defende Ricardo.

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