Entre os colaboradores do Dicionário de Luís de Camões está, como mencionado no texto acima, o poeta, ensaísta e professor goiano Gilberto Mendonça Teles. Leia a seguir um trecho do seu verbete Recepção de Camões na Literatura Brasileira. A íntegra está em estadão.com.br/e/gilbertocamoes.*"A influência da obra e do nome de Camões na poesia brasileira, de Bento Teixeira a Carlos Drummond de Andrade, ou, mais precisamente, das origens da literatura no Brasil aos escritores da atualidade, deve ser estudada com a consciência de que a obra literária é antes de tudo a instauração de um determinado tipo de linguagem, que "o objeto da história literária não é a gênese das obras" (Todorov), mas "o estudo da variabilidade literária, isto é, da evolução da série" (Tynianov) e que "A história comparativa de uma literatura nunca deve esquecer a outra história, a interior" (Pichois). O prestígio da obra de Luís Vaz de Camões - a sua poesia épica, lírica e dramática - e, de maneira mítica, o fulgor de seu nome repercutem em todos os níveis da cultura brasileira, atingindo com igual força tanto a produção literária como as mais variadas manifestações da cultura popular. Daí o sentido de Camonema que, como um tópico universal, recobre toda a cultura brasileira, motivando a ideia e a prática de uma Camonologia, uma série de estudos e iniciativas culturais em torno de Camões. O processo de transformação do discurso literário no Brasil se verificou e ainda se verifica sob a influência de Camões, cuja obra repercute na poesia, atuando profundamente na concepção poética e motivando um sistema retórico camoniano, muito mais susceptível de desgastar-se entre os epígonos que muitas vezes não leram diretamente a obra de Camões, mas sim através dos grandes escritores que o citaram. Num e noutro caso, o certo é que em todos os momentos da literatura brasileira a corrente camoniana - a presença modelar de Camões - foi e continua sendo uma constante nos temas, nas imagens, na estrutura dos versos e até na man b) A continuidade da fusão do lírico com o épico, como na poesia de Cassiano Ricardo, Jorge de Lima, Carlos Nejar e Fernando Py, que vão fundir os traços épicos de Os Lusíadas numa forma intertextual de grande expressão lírica. c) O aparecimento, em 1886, de uma Camoniana Brasileira, do barão de Paranapiacaba, livro que será o símbolo de um novo sentido impresso à obra de Camões: o de servir de modelo didático para o ensino da língua portuguesa, fato que não só interferiu na crítica literária como gerou uma série de contos satíricos sobre gramáticos. (...)".