Indústria editorial vende menos em 2002

O mercado editorial encolheu, devido à crise que diminuiu o poder aquisitivo da classe média brasileira. Mas os números de venda de livros no País poderiam ser ainda piores se o governo não tivesse feito compras de livros para bibliotecas

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Por Agencia Estado
Atualização:

O mercado editorial começou o ano de 2002 eufórico, mas já no primeiro semestre pôde sentir o impacto da crise econômica: não fosse pelas compras do governo, teria havido uma redução de 6% no total de livros vendidos no período, se comparado com o primeiro semestre de 2001. Segundo diagnóstico do mercado elaborado pela Câmara Brasileira do Livro, foram vendidos 87,3 milhões de exemplares de 1º de janeiro a 30 de junho de 2002, contra 92,5 milhões em 2001. Consideradas as compras do governo - de didáticos e, principalmente, de não-didáticos, por meio do Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE) -, o resultado parece mais animador: o total de livros sobe para 161 milhões (contra 113,5 milhões em 2001). "Em 2002, o governo foi uma salvação para alguns", afirma Raul Wassermann, presidente da CBL. Mas, para a grande maioria das editoras, as compras governamentais não tiveram repercussão: pelo PNBE, foram negociados quase 61 milhões de livros, produzidos por apenas seis editoras. Além disso, o programa teve uma redução de custo de R$ 3 milhões. Sem o governo e apesar da redução das vendas, as editoras faturaram 2% a mais no 1º semestre de 2002 que no mesmo período de 2001, menos que a variação da inflação. Considerando as compras do governo, o faturamento sobe 4%. Para Wassermann, as novas compras do PNBE no segundo semestre vão ajudar na construção de um cenário aparentemente estável, embora o ano tenha sido, para a maior parte do setor, ruim. "O ano vai terminar com editoras e livrarias apertadas", afirma. "O mercado editorial reflete imediatamente o que sofre a classe média, que é nossa principal cliente." Na sua opinião, a disputa eleitoral e o clima de tensão sobre o futuro do País, criado pelo debate entre tucanos e petistas, ajudou a "assustar" os leitores e compradores de livros. Um dos aspectos realçados por Wassermann do relatório é a redução do número de novos títulos lançados. No primeiro semestre de 2001, foram lançados 7.571; em 2002, 5.840, uma redução de 23%. Isso indicaria uma espécie de "amadurecimento" empresarial das editoras e representa, na prática, um aumento de produtividade, ainda que tenha o lado negativo de reduzir a diversidade de textos disponíveis para o leitor brasileiro. Wassermann acredita que o mercado reagirá em 2003, em parte por causa do clima mais otimista que a eleição de Lula gerou, nas sua opinião. Outro fato positivo, afirma, é a boa relação do PT com o mercado editorial. "As prefeituras do PT sempre prestigiaram os programas de incentivo ao livro e à leitura", afirma. Sobre a provável nomeação de Gilberto Gil para o Ministério da Cultura, ele afirmou: "Nunca tivemos tantos autores e professores no MinC quanto nos últimos anos, mas o ministério deixou a desejar na área do livro. Talvez com um cantor e compositor, a coisa melhore." Eleições - Em 26 de fevereiro de 2003, os editores elegerão a nova diretoria da CBL. Duas chapas concorrem: uma liderada por Oswaldo Siciliano, da Siciliano, e outra por José Henrique Grossi, um dos atuais vice-presidentes da Câmara. Para Wassermann, o "engasgo" do mercado não vai prejudicar a campanha de Grossi, a quem apóia. "O que importa é a política de longo prazo da entidade", afirma ele.

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