IMS expõe história visual do Brasil colonial

Viagem Tropical, aberta a partir de amanhã para o público, é um conjunto de três exposições. Já em São Paulo, a instituição abre quinta-feira Rio de Janeiro, 1825-26

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Por Agencia Estado
Atualização:

O Instituto Moreira Salles (IMS) encerra o ano com um amplo mergulho na história visual do Brasil colonial. Aproveitando o ensejo criado pelas comemorações dos 500 anos, a instituição expõe em sua nova sede do Rio de Janeiro a mostra Viagem Tropical, aberta a partir de amanhã para o público e que na verdade é um conjunto de três exposições que abrangem um longo período, entre os séculos 17 e 19. E quinta-feira inaugura em São Paulo a mostra Rio de Janeiro, 1825-26, uma seleção de 32 obras do Highcliffe Album. Adquirido pelo IMS em abril do ano passado em leilão da Christie´s, o álbum reúne mais de 300 trabalhos realizados pelo jovem Charles Landseer (1799-1878), que veio ao Brasil com a missão inglesa de reconhecimento da soberania brasileira. A missão reconheceu mais do que a independência brasileira, declarada três anos antes de sua chegada ao País. Graças a ela, temos registros magníficos da paisagem, dos hábitos e costumes do País que tentava se firmar como nação independente. Além das belas aquarelas de Landseer, o conjunto conta ainda com trabalhos de Jean-Baptiste Debret (1768-1848), William John Burchell (1781-1863) e Henry Chamberlain (1796-1844). Para que se tenha idéia da importância histórica desse material - que ganhou o título de Highcliffe Album por causa do Castelo Highcliffe, residência da família Stuart, a primeira proprietária do acervo -, nele estão presentes 80% da iconografia de São Paulo até aquele momento. É verdade que no início dos oitocentos a cidade não passava de um vilarejo, mas isso só faz aumentar a importância documental desse material. Algumas das imagens atribuídas a Debret são conhecidas do público, apesar de o álbum ter ficado durante anos sem ser exibido. É que há exemplares quase idênticos de algumas das obras que o mestre francês entregou a Landseer na coleção dos Museus Castro Maya. Na primeira seleção do álbum para ser exibido em São Paulo era inevitável que as cenas da região ganhassem certo destaque. O núcleo central são as mesmas 22 obras apresentadas no Rio há dois meses, mas outros 14 registros iconográficos foram acrescentados. O potencial de aproveitamento de um tesouro como o Highcliffe Album é enorme e o IMS vem procurando ampliar ao máximo as oportunidades de exibição do vasto material. Por enquanto os cariocas, que acabam de ganhar um centro novinho em folha, são os que mais têm tirado proveito. Um novo conjunto de obras do álbum também pode ser visto na casa da Gávea, ao lado das outras duas exposições que compõem o evento "Viagem Tropical". Entre as novas obras apresentadas ao público carioca estão a bela cena do Corcovado, visto a partir da Capela da Conceição, um impressionante retrato da natureza e dos tipos da época. Viagem Tropical é, na realidade, um panorama bem mais amplo da história visual do País, começando com uma série de mapas realizada pelos holandeses no século 17 e terminando com uma série de trabalhos feita nos anos 40 do século passado por Paul Harro-Harring (cuja obra já foi exibida em São Paulo). Reportagem visual - Esse dinamarquês, que veio ao País como correspondente do jornal britânicoAfrican Colonizer - de tendência abolicionista, apesar do nome -, fez uma espécie de reportagem visual sobre as terríveis condições enfrentadas pelo negro no País. Com um toque evidentemente romântico, sua obra não tem o mesmo aspecto realista (quase fotográfico) encontrado em Landseer, Debret e Hildebrandt. É bem verdade que os viajantes que chegaram no início do 19 inevitavelmente traduziram em imagens sua visão (crítica ou reverencial) do que encontraram neste distante paraíso tropical, mas com um grau de subjetividade infinitamente inferior. No longo percurso entre os mapas holandeses - que, segundo o diretor superintendente do IMS, Antonio Fernando De Franceschi, tem um forte componente de imaginário, de maturação - e a obra de Harro-Harring há o amadurecimento técnico, simbólico e principalmente a afirmação de uma vontade de construção de um ideal político e social. O distanciamento de quem pretende mapear, reconhecer e identificar a alteridade de um vasto e assustador território não faz mais sentido em meados do século 19. Nesse momento ganha impulso o discurso de denúncia de Haring, uma espécie de revolucionário profissional que não depende mais de missões ou governos para vir ao Brasil e que acabou caindo no acaso exatamente por causa de suas atitudes políticas. "Há na obra de artistas como Debret um verismo na representação que permite ao espectador caminhar mais livremente. Já Harro-Harring não representa pessoas, mas papéis sociais", explica o diretor superintendente do IMS. O conjunto de obras de sua autoria foi comprado por Walter Moreira Salles na década de 60 em Paris, numa oportunidade imperdível. Franceschi também define como uma "oportunidade imperdível" o leilão do ano passado no qual compraram o Highcliffe Album, mas esclarece que apesar dessas ocasiões únicas continua cabendo à fotografia um papel preponderante no acervo do IMS. Highcliffe Album - De terça a sexta, das 13 às 20 horas; sábados e domingos, das 13 às 18 horas. IMS. Rua Piauí, 844, 1.º andar. tel. 3825-2560. Abre quinta, às 21 horas

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