15 de novembro de 2012 | 02h14
Sobrevivente dos campos de extermínio de Auschwitz e Buchenwald e residente em Berlim, Kertész é o primeiro escritor húngaro a ganhar o prêmio Nobel de Literatura, por contas das novelas e ensaios em que plasmou experiências do Holocausto. Porém, aos 82 anos ele assegura que na Alemanha lhe compreendem melhor que na Hungria. "O destino é inescrutável", confessou ao semanário alemão Der Spiegel, ao indicar que é justamente na Alemanha que seu legado está preservado, com a abertura, em Berlim, de um arquivo com os manuscritos de suas obras, incluindo Sem Destino (adaptado em 2005 para o cinema por Laslos Koltai), Kaddish e Fiasco, entre muitos outros documentos.
Em entrevista ao The New York Times - e publicada pelo Estado em 2003 -, Kertész disse que se tornou escritor não para apresentar um testemunho sobre o que vivenciou. A motivação foi a sensação de que tinha saído de um campo de concentração para outro, quando a Hungria sucumbiu ao poder soviético.
"Foi em 1955, eu estava num corredor e ouvi passos atrás de mim. Os passos se tornaram mais barulhentos e eu tive essa visão de pessoas marchando atrás de mim. Era um grupo que representava esquecimento, conformismo, resignação. Pertencer a esse grupo em marcha significa perder minha identidade. Eu tinha de sair da linha", afirmou.
Na mesma entrevista, Kertész se recusa a ver o Holocausto na forma exclusiva de um conflito entre alemães e judeus. "O Holocausto não é o caso de um erro eventual. Ele pertence à história europeia, e com ele, os valores europeus do Iluminismo entraram em colapso". Esse visão, para a Academia Sueca, é também o que diferencia os textos de Kertész dos produzidos por sobreviventes do Holocausto. / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
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