Império Gucci poderá ser tema de "novela"

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Por Agencia Estado
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A novela fashion mais saborosa do mundo deve continuar rendendo notícias. Às vésperas do primeiro desfile da Yves Saint Laurent feito sob a direção de Tom Ford, um tribunal da Holanda questiona a aliança da Gucci com a PPR, que impulsionou ainda mais o reaquecimento da marca italiana e a conseqüente aquisição da YSL e outras grifes. A guerra entre o novo conglomerado e a LVMH, de Bernard Arnault, que tentou adquirir controle da Gucci há pouco mais de um ano, deve se estender por mais um bom tempo. A história da Gucci é uma das mais fascinantes do mercado fashion em todos os tempos, rendendo o recém-lançado livro The House of Gucci, de Sarah Gay Forden. A movimentação da família que perdeu o controle da empresa na metade da década de 90, deve virar também um filme dirigido por Martin Scorsese, de acordo com a imprensa italiana. Não é para menos: além de traições, processos, falências e recuperações fabulosas, a "novela" incluiu ainda o assassinato de Maurizio Gucci, por sua ex-mulher, Patrizia Martinelli, que está atualmente cumprindo 30 anos de pena em Milão. A história parecia ter sido encerrada com um final feliz - pelo menos no lado financeiro. As brigas da terceira geração da família pelo controle da marca, que ficou por último com Maurizio, e a administração emocional do executivo-playboy deixaram a Gucci à beira da falência, com o nome desgastado pela proliferação de produtos de baixa qualidade, fabricados em diferentes partes do planeta, sem nenhuma unidade. A virada da Gucci se deu quando Domenico De Sole, um dos advogados da família e membro da diretoria da empresa, fez uma aliança com a InvestCorp, um fundo de investimentos para empresários iraquianos, que resultou na saída de Maurizio. Ele ficou com US$ 120 milhões em dinheiro e várias propriedades, um ótimo negócio considerando-se que a marca estava praticamente acabada. A fortuna despertou a ganância de Patrizia Martinelli, que arquitetou o assassinato dele à queima-roupa para se apoderar do dinheiro, por meio de suas duas filhas. Com a contratação de Tom Ford (que havia ocorrido antes da saída de Maurizio), a marca começou a dar novos sinais de criatividade que começaram a ser alavancados pelo dinheiro da InvestCorp. Uma nova ameaça começou a aparecer quando Bernard Arnault passou a comprar ações da Gucci em bolsas de valores de vários países para tentar tomar controle da marca e anexá-la à sua crescente LVMH (que já havia comprado a Christian Dior, a Louis Vuitton e a Givenchy, entre outras). Com Ford e De Sole trabalhando em esquema de liberdade total, a partir de 1995, a Gucci virou um fenômeno de vendas que atingiu a marca de US$ 1 bilhão em lucros, com ações que no ano passado tiveram um aumento de 82% na bolsa de Nova York. Para tentar evitar que Arnault conseguisse o controle da marca, De Sole arquitetou um novo plano e emitiu mais 40 milhões de ações da companhia (correspondente a 40%), o que diminuiu a participação do chefão da LVMH de 34,4% para cerca de 20,6%. As novas ações foram dadas para o grupo Pinault-Printemps-Redoute, de François Pinault (arquiinimigo de Arnault), em troca de uma injeção de quase US$ 3 bilhões, que seriam dedicados para aquisições de marcas como a YSL. A negociação acabou podendo ser feita porque a sede da Gucci foi instalada - ainda na época da administração familiar - em Amsterdã, onde a criação de novas ações é uma prática comum entre empresas, desde que uma porcentagem mínima de sócios concorde. A medida foi aprovada em maio do ano passado, resultando em uma fase de ainda maiores lucros para a Gucci-PPR. No episódio desta semana, a Suprema Corte da Holanda acaba de anular a associação entre a Gucci e a PPR, dando a chance para uma nova decisão. De acordo com a imprensa holandesa, a anulação não vai congelar as ações da empresa nem o dinheiro usado para as aquisições. Os representantes da Gucci-PPR garantem que o novo julgamento vai apenas confirmar o que havia sido decidido no ano passado: "Os mesmos juízes vão ter ainda mais motivos para ver que a operação foi legítima e favorável aos interesses dos acionistas", disse um dos representantes da imprensa em uma entrevista coletiva, ontem em Amsterdã. Eles também alegam que Arnault teve um lucro de quase US$ 1 bilhão com a alta de suas ações nas bolsas mundiais e há rumores de que estariam entrando com um processo contra o empresário por difamação. Embora seja muito improvável que o negócio entre a Gucci e a PPR seja realmente anulado em um futuro próximo, a LVMH não pretende se desfazer de seus 20,6%, mantendo esperanças de um dia controlar a cobiçada marca italiana. Enquanto isso, a nova onda de publicidade com certeza deve atrair ainda mais atenção para a estréia de Ford como diretor da Yves Saint Laurent, um dos desfiles mais aguardados na semana de moda de Paris.

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