14 de abril de 2011 | 00h00
Regina Silveira
ARTISTA
"Um artista peculiar, com interesses científicos consistentes, mas muitas vezes apreciado superficialmente, apenas pelo caráter ornamental de sua obra gráfica, infinitamente reproduzida e barateada em produtos e publicidade - ou entendida como não suficientemente "artística" por um posicionamento estético fechado, eu diria até preconceituoso. O pensamento e o imaginário matemático que está na base das simetrias e metamorfoses das gravuras de Escher é dos mais sofisticados e sua obra sempre teve a maior ressonância nos círculos artísticos e científicos que, desde sempre, prezam as relações - realmente fundamentais - entre Arte e Geometria, nas mais diversas formas.
Quero chamar a atenção para a maestria técnica quase inacreditável das matrizes que ele gravou, minuciosa e manualmente, em madeira, metal ou pedra litográfica, e para a inteligência das metamorfoses que aplicava a figuras diversas, acopladas por procedimentos matemáticos de periodicidade, como duplicação e alternância.
Para mim sempre foram claras e felizes as abordagens que aproximaram Escher e Mondrian, com base nas progressões e proporcionalidades das formas planas.
O que sempre apreciei mais nesse artista foi o tratamento do espaço. A ambiguidade de suas antiperspectivas e o caráter enigmático dos paradoxos visuais que construía com escadas e profundidades invertidas, certamente alimentaram minha imaginação quando eu estava com todas as baterias voltadas para possíveis atualizações de anamorfoses e estranhamentos, no início dos 80."
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