18 de abril de 2013 | 02h12
Também se pode especular como teria sido a história do mundo se detalhes dos seus grandes momentos ou de suas passagens mais terríveis tivessem o escrutínio eletrônico de hoje. Na ausência da câmera onipresente os acontecimentos eram conhecidos por testemunhos pouco confiáveis, que transformavam banalidades em feitos heroicos e barbaridades em mitos. Hoje se sabe que o repúdio do público americano à guerra no Vietnã cresceu porque aquela foi a primeira guerra com cobertura instantânea da História, a primeira que não foi mostrada em filmes desatualizados mas gravada e despejada diariamente pela TV no tapete da sala. E não é preciso ir muito longe. Imagine se na tropa que acompanhava dom Pedro I às margens do Ipiranga houvesse uns quatro ou cinco celulares gravando tudo. A cena da proclamação da nossa independência certamente não seria tão retumbante. A cena retratada na pintura famosa é mais bonita, mas é falsa. Ou - para quem acha que entre o fato e a lenda se deve sempre publicar a lenda - é falsa, mas é mais bonita.
Crônica vovô. Tenho uma poltrona para ler os jornais, ver TV e, eventualmente, cochilar na sala. Tenho, não. Tinha. Nossa neta Lucinda descobriu que o melhor lugar para assistir a seus programas é a mesma poltrona. Não concorda que na poltrona, apertando um pouco, cabem dois. Só faz concessão na hora do Jornal Nacional, quando permite minha reintegração de posse. No resto do tempo a poltrona é dela, e meus protestos são recebidos com indiferença ou ironia. No outro dia, diante de mais uma reivindicação dos meus direitos, ela tapou a boca com a mão para eu não ouvir e disse: "Vovô pirou". Enfim, estou envolvido numa guerra por território, com poucas possibilidades de vitória.
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