
25 de novembro de 2013 | 02h16
Pouco se conhece do trabalho do italiano Luigi Ghirri (1943-1992) no Brasil. É uma pena! Lacuna agora sanada pelo IMS, que - já publicou um ensaio sobre ele nas páginas da revista Zum, n# 3, no ano passado - e, agora nos premia com uma exposição de 200 imagens do fotógrafo que pensou, refletiu e falou da fotografia-arte muito antes dela se tornar moda no mundo todo nos anos 1980. A Itália, é bem verdade, nunca foi referência em trabalhos fotográficos (muito mais no cinema, artes plásticas e arquitetura), mas Luigi Ghirri é uma exceção.
É um marco sobre o pensar e fazer fotografia em uma época em que ela, a fotografia, nem sempre era tema de discussão, mas era vista como um artefato. Não é esse o caso. A exposição Luigi Ghirri - Pensar por Imagens - Ícones, Paisagens, Arquitetura foi organizada segundo três caminhos centrais ao seu universo: a investigação dos ícones visuais que povoam o mundo contemporâneo; uma releitura da paisagem italiana, baseada num profundo conhecimento da história da arte; e uma indagação sobre os modos de viver, habitar e perceber o espaço.
Toda a poética do Rio
Em suas imagens fica evidente a relação que ele traça com a literatura. Fotografia como narrativa imagética, fotografia como uma maneira de narrar o mundo. Segundo Laura Gasparini, curadora da mostra em entrevista por e-mail: "Ironicamente, o conhecimento da obra de Luigi Ghirri fora da Itália acontece nos anos 1990, após sua morte, mas por meio da literatura, partindo do pressuposto que Ghirri não queria narrar a realidade social ou geográfica, mas retratar a sensibilidade daquilo que ele via, sentia e a memória construída".
A fotografia como uma forma simples e direta. É ainda a curadora que nos lembra que o fotógrafo gostava de citar uma frase de Giordano Bruno (1548-1600) que, obviamente fazia referência às imagens em geral, visto que nessa época a fotografia ainda não havia sido inventada e dizia que "as imagens são enigmas que se resolvem com o coração".
E foi desta maneira que Luigi Ghirri fotografou o que viu. Ele sempre teve uma preocupação do que é o pensar por imagens. Não à toa o nome da exposição que nasceu a partir de uma pedaço de papel, na verdade um recorte jornal que ele achou jogado ao chão onde só aparecia um pedaço de texto "pensar por imagens".
O fato aconteceu em 1978: "Este achado chamou atenção de Ghirri, como um "object-trouvé que lhe permitiu discutir sobre a linguagem fotográfica, a discussão entre realidade e percepção. Ghirri considerava a fotografia uma linguagem que recriava a realidade contada por meio das coisas simples, mas com um olhar atento para o cotidiano, mas não por isso menos significativa" explica a curadora.
Ironicamente, as inspirações de Luigi Ghirri se encontram entre os fotógrafos documentais: "Sua fotografia é fruto de referências de fotógrafos como Walker Evans, Lee Friedlander e Diane Arbus, mas também no cinema de Michelangelo Antonioni. Esta é a poética de Ghirri", relata a Laura.
Mas é a pesquisadora Marina Spunta, na revista Zum, que consegue condensar a criatividade do fotógrafo Luigi Ghirri: "Suas fotos impressionam por mostrar objetos cotidianos como se estivessem sendo vistos pela primeira vez ou paisagens banais como se fossem lugares oníricos, onde temos vontade de viver". A exposição de Luigi Ghirri não é para ser vista, mas para ser pensada.
LUIGI GHIRRI
Instituto Moreira Salles (IMS). Rua Piauí, 844, 1º andar,
Higienópolis, telefone 3825-2560. De 3ª a 6ª, das 13 h às 19 h;
sábados, domingos e feriados, das 13 h às 18 h. Grátis. Até 26/1.
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