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Imagens de Luigi Ghirri: para ver e pensar

O fotógrafo italiano que registrou e refletiu a foto-arte antes que ela se tornasse moda ganha mostra de 200 trabalhos

Por Simonetta Persichetti
Atualização:

Pouco se conhece do trabalho do italiano Luigi Ghirri (1943-1992) no Brasil. É uma pena! Lacuna agora sanada pelo IMS, que - já publicou um ensaio sobre ele nas páginas da revista Zum, n# 3, no ano passado - e, agora nos premia com uma exposição de 200 imagens do fotógrafo que pensou, refletiu e falou da fotografia-arte muito antes dela se tornar moda no mundo todo nos anos 1980. A Itália, é bem verdade, nunca foi referência em trabalhos fotográficos (muito mais no cinema, artes plásticas e arquitetura), mas Luigi Ghirri é uma exceção. É um marco sobre o pensar e fazer fotografia em uma época em que ela, a fotografia, nem sempre era tema de discussão, mas era vista como um artefato. Não é esse o caso. A exposição Luigi Ghirri - Pensar por Imagens - Ícones, Paisagens, Arquitetura foi organizada segundo três caminhos centrais ao seu universo: a investigação dos ícones visuais que povoam o mundo contemporâneo; uma releitura da paisagem italiana, baseada num profundo conhecimento da história da arte; e uma indagação sobre os modos de viver, habitar e perceber o espaço. Em suas imagens fica evidente a relação que ele traça com a literatura. Fotografia como narrativa imagética, fotografia como uma maneira de narrar o mundo. Segundo Laura Gasparini, curadora da mostra em entrevista por e-mail: "Ironicamente, o conhecimento da obra de Luigi Ghirri fora da Itália acontece nos anos 1990, após sua morte, mas por meio da literatura, partindo do pressuposto que Ghirri não queria narrar a realidade social ou geográfica, mas retratar a sensibilidade daquilo que ele via, sentia e a memória construída".A fotografia como uma forma simples e direta. É ainda a curadora que nos lembra que o fotógrafo gostava de citar uma frase de Giordano Bruno (1548-1600) que, obviamente fazia referência às imagens em geral, visto que nessa época a fotografia ainda não havia sido inventada e dizia que "as imagens são enigmas que se resolvem com o coração".E foi desta maneira que Luigi Ghirri fotografou o que viu. Ele sempre teve uma preocupação do que é o pensar por imagens. Não à toa o nome da exposição que nasceu a partir de uma pedaço de papel, na verdade um recorte jornal que ele achou jogado ao chão onde só aparecia um pedaço de texto "pensar por imagens".O fato aconteceu em 1978: "Este achado chamou atenção de Ghirri, como um "object-trouvé que lhe permitiu discutir sobre a linguagem fotográfica, a discussão entre realidade e percepção. Ghirri considerava a fotografia uma linguagem que recriava a realidade contada por meio das coisas simples, mas com um olhar atento para o cotidiano, mas não por isso menos significativa" explica a curadora.Ironicamente, as inspirações de Luigi Ghirri se encontram entre os fotógrafos documentais: "Sua fotografia é fruto de referências de fotógrafos como Walker Evans, Lee Friedlander e Diane Arbus, mas também no cinema de Michelangelo Antonioni. Esta é a poética de Ghirri", relata a Laura. Mas é a pesquisadora Marina Spunta, na revista Zum, que consegue condensar a criatividade do fotógrafo Luigi Ghirri: "Suas fotos impressionam por mostrar objetos cotidianos como se estivessem sendo vistos pela primeira vez ou paisagens banais como se fossem lugares oníricos, onde temos vontade de viver". A exposição de Luigi Ghirri não é para ser vista, mas para ser pensada.LUIGI GHIRRIInstituto Moreira Salles (IMS). Rua Piauí, 844, 1º andar, Higienópolis, telefone 3825-2560. De 3ª a 6ª, das 13 h às 19 h; sábados, domingos e feriados, das 13 h às 18 h. Grátis. Até 26/1.

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