Identidade brasileira

Em Locarno, mostra paralela Carte Blanche premia 'Aspirantes', de Ives Rosenfeld

PUBLICIDADE

Por Flavia Guerra e LOCARNO
Atualização:

O longa Aspirantes, do carioca Ives Rosenfeld, foi eleito o melhor filme da seleção Carte Blanche do 67.º Festival de Locarno. O prêmio, entregue ontem, destaca um filme brasileiro entre os sete que foram enviados pelo cinema do Brasil ao festival. "Por sua originalidade e identidade artística. Pela dinâmica entre os personagens e a elegância da direção. Um filme que também é um espelho do Brasil contemporâneo", declarou o júri ao anunciar o prêmio, que ainda oferece US$ 11 mil ao vencedor. "Estou muito feliz. Fizemos muitos contatos, o retorno foi muito bom e o prêmio melhora ainda mais um festival incrível", disse Rosenfeld, que, no filme, conta a história de um jovem jogador de futebol, e do que ele é capaz de fazer movido pela inveja por seu melhor amigo e o mais talentoso jogador da equipe.Ainda que a Carte Blanche seja uma seleção paralela com o intuito de incentivar o contato entre realizadores do país tema (anteriormente, Chile e México foram os escolhidos) e compradores, produtores e profissionais de festivais de todo o mundo, a projeção que o cinema do País ganha é importante e estratégica. "Acompanho a produção brasileira há anos e agora vejo que o cenário está mudando. Há cada vez mais variedade, de temas, regiões, estilos… Os realizadores estão se interessando por assuntos e filmes mais diversos e começa a haver uma representatividade de fato da cultura do Brasil", disse ao Estado a jurada Eva Morsch Kihn. Diretora do departamento de indústria e de seleção do programa Cine em Construção do Festival de Toulouse, na França, Eva acredita que a produção do País está mais madura e consistente. "É importante que todas as regiões e todos estilos sejam representados. É um território imenso e não se pode conhecer apenas um tipo de filme", afirmou ela, que teve apoio dos outros dois integrantes do júri, Vincenzo Bugno, manager do World Cinema Fund do Festival de Berlim, e de Christian Jeune, chefe do departamento de filmes em Cannes. "Há um mosaico sendo formado. E esta seleção trouxe para Locarno a diversidade. Houve o momento dos filmes de conotação mais social, importante para a afirmação da cinematografia brasileira. Ainda é, mas não mais exclusivamente", acrescentou a jurada. "O importante é que profissionais do mundo possam ter uma visão mais completa do que o Brasil pode oferecer."Foi justamente um retrato abrangente da novíssima safra da produção nacional o que buscou a comissão de seleção da Carte Blanche. Além de Aspirantes, entre 40 inscritos foram escolhidos, Beco, de Camilo Cavalcanti; Nise da Silveira, de Roberto Berliner; O Touro, de Larissa Figueiredo; Oração do Amor Selvagem, de Chico Faganello; Ponto Zero, de José Pedro Goulart; e Que Horas Ela Volta?, de Anna Muylaert. "São do Rio, Rio Grande do Sul, Paraná, de São Paulo, Santa Catarina... Revelar nossa pluralidade é importante não só para a questão de distribuição internacional, mas também para que novas coproduções e parcerias possam surgir", analisou o cineasta André Sturm, diretor do Cinema do Brasil, órgão promotor de filmes nacionais, que, ao lado da Apex - Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), realizou a ação da Carte Blanche em Locarno, incluindo seleção de filmes e convite dos cineastas.A produtora Sara Silveira, que integrou a comissão de seleção, acredita que ações como esta vão auxiliar o cinema brasileiro a alcançar o prestígio de países como a Argentina. "Hoje, já somos mais de 50 cineastas brasileiros somente em Locarno. Mas a Argentina envia cerca de 40% mais filmes aos festivais do que nós. E isso é fruto de um trabalho de anos. Também vamos levar alguns anos, mas estamos indo na direção certa", concluiu ela.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.