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IAC exibe estudos de Willys de Castro

Por ANTONIO GONÇALVES FILHO - O Estado de S.Paulo
Atualização:

A obra do artista neoconcreto mineiro Willys de Castro (1926-1988) estava à espera desse redescobrimento há algum tempo. Agora, na cidade, duas mostras prestam tributo a um dos mais coerentes construtivistas que o Brasil conheceu nos anos 1950, época em que essa escola começou a se firmar no País. A primeira exposição está em cartaz até 14 de outubro na Pinacoteca do Estado, sintetizando a carreira do criador do 'objeto ativo', ao reunir peças do começo de carreira e as últimos obras. No sábado, esboços dessa trajetória revelam o processo de trabalho de Willys Castro na exposição Deformações Dinâmicas, que o Instituto de Arte Contemporânea (IAC) abre em sua sede sob responsabilidade da museóloga Marilúcia Bottallo, curadora do arquivo pessoal do artista sob guarda da instituição. Pintor, escultor, projetista gráfico, músico e poeta concreto, Willys esteve envolvido com praticamente todas as atividades artísticas durante toda sua vida. Químico por formação, conseguiu que a Suvinil desenvolvesse uma cor especial para ele, que não batizou, como o fez Yves Klein ao patentear seu azul, porque era o que hoje se chama um artista 'low profile', avesso à autopromoção, apesar de ser reconhecido como um dos principais integrantes do movimento neoconcreto. Seu perfeccionismo é evidenciado nos esquemas, esboços para objetos ativos, partituras musicais, desenhos para a indústria têxtil, logotipos e datiloscritos reunidos na mostra. São três centenas deles, divididos em três segmentos: o poeta, o músico e o artista gráfico. No primeiro estão reunidos seus poemas concretos. Essa produção literária talvez seja a parte menos conhecida de sua extensa produção (mais de 4 mil trabalhos, segundo o IAC). Willys foi próximo do grupo Noigandres (formado há 60 anos por Décio Pignatari e os irmãos Campos) e criou poemas visuais, além de partituras de verbalização que buscavam traduzir visualmente as experiências sonoras desenvolvidas pelos concretistas. Integrante do grupo musical Ars Nova, nos anos 1950, ele foi aluno do maestro alemão Hans-Joachin Koellreuter. Como artista visual, sua contribuição original pode ser atestada - tanto na mostra da Pinacoteca como na do IAC - pelo conceito do "objeto ativo" (nascido justamente no ano da assinatura do Manifesto Neoconcreto, 1959), que rompe com a superfície bidimensional como suporte para a pintura e convida o espectador a "concluir' a obra, movimentando-se diante dela e observando-a sob diferentes ângulos. A curadora do IAC aponta um diálogo estreito entre ele e Volpi. Embora o pintor italiano não recebesse discípulos em seu ateliê, Willys era um interlocutor presente em sua vida, tendo assinado a curadoria de exposições do mestre, como lembra a curadora. Artista de olhar refinado, além de colecionador, o mineiro tem uma série de estudos na mostra reveladores desse intercâmbio com Volpi, dos quais a obra menor reproduzida nesta página é um exemplo. "Ele poderia ter produzido ainda mais se não tivesse dedicado boa parte do seu tempo ao trabalho dos amigos", observa a curadora Marilúcia Bottallo, que trabalha na catalogação de sua obra. Segundo a marchande Raquel Arnaud, que organizou exposições de Willys em sua galeria, o IAC, criado por ela, planeja editar no futuro o catálogo raisonné do artista, representado nas coleções dos principais museus paulistas (Pinacoteca, MAC, MAM) e internacionais (o MoMA de Nova York). Além das peças já mencionadas, há na mostra desenhos de joias, móveis, objetos de uso cotidiano, além de imagens de padronagem têxtil concebidas pelo estúdio que Willys manteve com o pintor Hércules Barsotti nos anos 1960, onde concebeu logotipos como o do Hospital Oswaldo Cruz (1962), posteriormente substituído. "Ele fez até vitrais e foi editor", diz a curadora. E um editor que queria publicar e.e.cummings. Não deu tempo.

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