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Humoristas afinam o tom após atentados

Por Agencia Estado
Atualização:

O humor tenta reencontrar seu espaço nos Estados Unidos pós-atentados terroristas. Os principais talk-shows do país procuram o tom correto de seus textos - que normalmente fazem graça com as notícias do dia-a-dia. O humorístico Saturday Night Live, por sua vez, estréia sua nova temporada no sábado com uma mensagem séria. A cerimônia do Emmy, remarcada para o dia 7 de outubro, também vai adotar um clima mais sisudo. Enquanto isso, o The Onion arrisca ao esculhambar a tragédia em uma mistura de besteirol e crítica ao governo de George W. Bush. David Letterman foi um dos primeiros a se adaptar aos novos tempos. Ao voltar ao ar na segunda-feira, o apresentador não fez seu monólogo inicial e eliminou a seção Top Ten, que normalmente provoca gargalhadas da audiência. Ele aproveitou para elogiar o trabalho do prefeito Rudolph Giuliani e se emocionou quando um de seus convidados, o apresentador do telejornal CBS News Dan Rather, recitou a letra da música America the Beautiful. De acordo com Bill Maher, o apresentador do programa Politically Incorrect, o público sempre dá sinais de quando está pronto para voltar a absorver o humor. "Em situações de tragédia, o sarcasmo e o exagero podem se tornar grande armas para a recuperação", disse ele. Conan O´Brien, do Late Night, adotou um novo tom para o programa e decidiu aumentar a freqüência do talk-show. "Estamos vivendo um período diferente da história em Nova York e nosso programa tem de refletir isto." Para o produtor e criador do Saturday Night Live, Lorne Michaels, é preciso tocar no assunto - e não fingir que nada aconteceu. "Vamos falar sobre a tragédia de uma maneira emocional, por acharmos apropriado", disse ele. "Estamos procurando fazer um programa que fale sobre o que aconteceu com respeito e dignidade e que ofereça alívio para as pessoas." A cerimônia do Emmy, marcada originalmente para 16 de setembro, está sendo totalmente reformulada. Seguindo o modelo de edições do Oscar realizadas no período da 2ª Guerra Mundial, o prêmio mais importante da TV americana não vai contar com a tradicional entrada dos artistas pelo tapete vermelho. A direção do evento está pedindo para os convidados não exagerarem nas roupas (os homens devem usar ternos e não smokings) e serem comedidos nos comentários de agradecimento. A apresentadora Ellen DeGeneres deve fazer apenas "alguns comentários políticos discretos", deixando o discurso de abertura para o jornalista Walter Cronkite. Outra diferença é que a cerimônia vai começar com o prêmio de melhor ator e atriz em uma série dramática - e não em uma comédia, como nos anos anteriores. Em meio a tanta correção política, o jornal The Onion (no endereço eletrônico www.theonion.com) resolveu arriscar e esculhambar de vez com a tragédia. O jornal cria manchetes e textos estapafúrdios inspirados em acontecimentos reais já virou uma instituição nos Estados Unidos e deu origem a livros e outros produtos. Depois de uma semana parado, o web site voltou ao ar sem medo de parecer inapropriado. Algumas das manchetes de ontem: "Abraços aumentam 76.000%"; "Resto do país sente afeição profunda por Nova York temporariamente"; "Presidente pede calma aos cantores de baladas". Enquanto alguns textos tentam um tom de humor menos ofensivo, outros fazem críticas explícitas ao governo. Um editorial, por exemplo, trata com ironia os planos de retaliação do país: "Devemos bombardear todo e qualquer país que possa ter alguma coisa a ver com isso e depois bombardear mais um pouco, só para garantir. Caso alguns dos países atingidos não estejam envolvidos, cartas de desculpas serão enviadas mais tarde." Para amenizar, o The Onion está veiculando anúncios que pedem contribuições para a Cruz Vermelha.

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