HQs em grande estilo na Feira de Frankfurt

Mesmo assim, os quadrinhos ainda não são considerados como parte do mercado editorial na Alemanha. Ainda pesa sobre eles o preconceito de que são obras destinadas à diversão do público infanto-juvenil

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Por Agencia Estado
Atualização:

Chegou a vez dos quadrinhos. Além de receberem um hall especial só para eles, a Feira de Frankfurt promove uma série de eventos relacionados às HQs. É que demorou, mas a ficha terminou por cair. Agora, os organizadores de Frankfurt reconhecem que o setor "é tão dinâmico (ou seja, dá tanto lucro) quanto imaginativo". As novidades apresentadas vão das histórias de super-herói aos mangás, passando pelas criações com um pé na multimídia (aliás, outra tendência bastante forte desse encontro). A Feira de Frankfurt é o mais importante encontro de escritores de todo o mundo. Aqui, os editores de todas as áreas, dos livros religiosos aos eróticos, sentam em mesinhas que se parecem com as de bar (mas dos moderninhos) e discutem quanto valem os direitos dos textos que estão negociando. Em breve, os negócios feitos em Frankfurt (ou apenas iniciados aqui) terminam por chegar às estantes do mundo inteiro - especialmente na Alemanha, que responde pela maior parte das transações. Hoje, Wai Witz, representante da Modern Graphics, disse à reportagem que a decisão de centralizar a participação dos editores de quadrinhos é boa. "Fica mais fácil para os agentes trabalharem", afirma. Sua empresa é a responsável pela distribuição na Alemanha das obras da Marvel. Segundo Witz, muitos editores pequenos não tinham como dar atenção ao setor, até por falta de tempo. O que ocorria é que apenas os grandes conseguiam mobilizar seus homens para fazer contatos na área. Agora, como é também mais fácil localizá-los, a expectativa é que os números cresçam. "Mas só vamos ter uma avaliação exata na segunda-feira", pondera. Na opinião de Witz, os quadrinhos ainda não são considerados como parte do mercado editorial na Alemanha. Ainda pesa sobre eles o preconceito de que são obras destinadas à diversão do público infanto-juvenil. "Espero que isso mude, mas acho que não vai ocorrer muito rapidamente." Opinião semelhante é mantida pela editora Bettina Doetsch, da Apitz-Kunkel. Segundo ela, a criação de um centro de quadrinhos vai facilitar os negócios. Ainda é cedo para qualquer comparação, diz, e, em todo o caso, sua empresa mantém um estante numa área mais nobre. Como se vê, os editores de quadrinhos não têm nada de bobos ou infantis. Outra prova é que, na estante que mantêm, deixaram em posição de destaque a versão de Hugo Pratt para a vida do escritor Antoine de Saint-Exupéry, autor de O Pequeno Príncipe e Terra dos Homens e um dos expoentes da literatura e da aviação francesa. Para tornar ainda mais "cult", o livro conta com prefácio de Umberto Eco. E, se depender do Prêmio Nobel de Literatura deste ano, o chinês Gao Xingjian, não faz sentido nenhum manter o preconceito em relação às HQs. Hoje, durante a coletiva à imprensa, um jornalista perguntou a Gao se ele incluia os quadrinhos dentro da literatura e se achava que deviam ser negociados numa feira de direitos autorais de livros. Ele foi breve: disse apenas que sim, e que lia muitos quadrinhos quando era criança. O hall destinado aos quadrinhos também promove encontro com autores e exibições. A de maior destaque é a dedicada ao criador do personagem Snoopy, o norte-americano Charles M. Schulz, morto no início do ano. Pôsteres coloridos falam de cada um dos principais personagens que integraram as histórias de Charlie Brown, do cãozinho e do pássaro Woodstock. Outra mostra é dedicada ao personagem Mabuse, legenda da literatura e do cinema. Nesta sexta e no sábado, Isabel Kreity, Stefan Dinter e Eckart Breitschuc, os autores de uma nova série de Mabuse, participaram da feira, "respondendo a questões e desenhando ao vivo".

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