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HQ rara de Di Cavalcanti é redescoberta

O livro Literatura em Quadrinhos no Brasil revela uma rara história em quadrinhos do pintor. Trata-se de Fantoches da Meia-Noite, feita para a editora de Monteiro Lobato em 1921

Por Agencia Estado
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Federico Fellini e Alain Resnais confessavam que gostariam de ter feito uma história em quadrinhos, e essa HQ era Mandrake, de Lee Falk. Umberto Eco é apaixonado pela Mafalda, de Quino. Os quadrinhos, primos bastardos da literatura e das artes visuais, sempre seduziram intelectuais e artistas de estofo. Este mês, os brasileiros vão descobrir que uma de nossas vacas sagradas modernistas também cultivava essa paixão. Uma raridade está sendo publicada no livro Literatura em Quadrinhos no Brasil, organizado por Moacy Cirne: uma história em quadrinhos do pintor e caricaturista Emiliano Di Cavalcanti (1897-1976), feita em 1921 para a editora de Monteiro Lobato - um ano antes, portanto, da Semana de Arte Moderna. O livrinho com as gravuras chama-se Fantoches da Meia-Noite e poderia ser visto como um precursor das chamadas "graphic novels". Na verdade, está mais para um "paraquadrinho", como diz Moacy Cirne, um conto ilustrado. Nunca tinha sido reeditado e o volume reproduzido é um dos tesouros da Biblioteca Nacional, que permitiu sua republicação. A "HQ" de Di está contida integralmente na edição da Nova Fronteira (preço salgadinho: R$ 120,00), que analisa a contribuição dos escritores e artistas plásticos às histórias em quadrinhos. Tom expressionista - Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo iniciou a carreira artística em 1908. Em 1914, publica seu primeiro trabalho - como caricaturista - na revista Fon-Fon. Consta que Di Cavalcanti fez poucos álbuns: no mesmo ano de Fantoches, ilustrou A Balada do Enforcado, de Oscar Wilde. Em 1931, fez Realidade Brasileira (1931), série de 12 desenhos satirizando o militarismo da época. Poucos colecionadores devem ter exemplares desses livrinhos. A particularidade de Fantoches da Meia-Noite é seu tom expressionista, em contraposição às cores quentes, às formas sensuais, aos morros, barracos, camisas listadas, cuícas e bananeiras que marcaram a produção do artista. Por definição, todo o espaço em Di Cavalcanti é feito de cores saturadas, brasileiras, quase excessivas. O trabalho com o "conto ilustrado" foi feito também antes de Di Cavalcanti empreender sua primeira viagem à Europa. Lá ele tomaria contato com os cubistas, surrealistas, fauvistas e outras vanguardas. Segundo Moacy Cirne, autor de um clássico da análise dos comics, A Explosão Criativa dos Quadrinhos (1970), a escolha do tema do livro Literatura em Quadrinhos decorreu de um motivo básico: toda a pesquisa da publicação foi feita no acervo da Biblioteca Nacional (BN), no Rio de Janeiro, e a intenção era mostrar que esse acervo é mais amplo do que se pensa.

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