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HQ de Alan Moore proibida na Inglaterra sai no Brasil em 2007

"Lost Girls" descreve um suposto encontro de três célebres personagens infantis: Wendy de "Peter Pan", Alice de "Alice no País das Maravilhas", e Dorothy de "O Mágico de Oz"

Por Agencia Estado
Atualização:

Há pelo menos três décadas os quadrinhos deixaram de ser coisa de criança. "Lost Girls", obra do autor inglês Alan Moore e de sua mulher, Melinda Gebbie, é uma das mais criativas e singelas provas disso. Na obra, contos eróticos são narrados com personagens de três clássicos infantis por meio dos quadrinhos. Proibida na Inglaterra, a HQ vai ser publicada no Brasil em 2007 pela Devir Livraria. O conto em quadrinhos descreve um suposto encontro de três célebres personagens das fábulas sacralizadas no cinema pela Disney: Wendy de "Peter Pan", Alice de "Alice no País das Maravilhas", e Dorothy de "O Mágico de Oz". Às vésperas do início da 1.ª Guerra Mundial, as já maduras heroínas trocam histórias sobre as aventuras sexuais de sua juventude. Na Inglaterra, a obra foi alvo de controvérsia. Segundo o Great Ormond Street Hospital, instituição detentora dos direitos autorais de "Peter Pan", a obra de Moore e Gebbie faz um uso indevido de sua personagem, famosa no imaginário infantil. Leandro Luigi Del Manto, Editor de Quadrinhos da Devir Livraria, diz que a medida inglesa é um exagero: "Alan Moore não está deturpando nem reescrevendo a obra, mas apenas criou uma história sobre uma das personagens que aparecem em Peter Pan. Portanto, não se trata de uma versão erótica de Peter Pan, mas uma obra totalmente nova". Segundo Del Manto, Moore já usou a mesma fórmula criativa em "A Liga Extraordinária", que reúne alguns dos grandes personagens da literatura fantástica inglesa numa mesma aventura em quadrinhos. "Lost Girls é basicamente isso, mas com conteúdo erótico." Alan Moore, um crítico feroz da máquina hollywoodiana Tão criativo quanto excêntrico, Alan Moore distingue-se como um dos mais fascinantes escritores de quadrinhos das últimas décadas. Ele é, sem dúvida, um dos responsáveis por fazer dos quadrinhos uma verdadeira obra de arte. Suas histórias são capazes de tocar não só o público adolescente masculino, alvo principal da indústria, como leitores maduros em busca de conteúdos mais complexos, o que não significa algo enfadonho. Pelo contrário, são de sua autoria alguns dos maiores clássicos das HQ, como "Watchmen", "Marvelman" e outros, que ganharam versões cinematográficas como "From Hell" e "V de Vingança". Crítico feroz da máquina hollywoodiana, faz questão de dissociar seu nome de cada filme sempre que pode. Procurado pelo Estado, Chris Staros, editor da americana Top Shelf Productions, que publicará em breve a terceira edição de "Lost Girls" nos EUA, estava a caminho da Inglaterra para se encontrar com o autor. Em comunicado, declarou: "A Top Shelf Productions vai suspender a distribuição de "Lost Girls" no Reino Unido e União Européia até o final de 2007, quando expiram os direitos autorais de "Peter Pan". Isto significa que uma primeira edição especial britânica será lançada no Reino Unido em 1.º de janeiro de 2008". Já no Brasil há uma situação mais favorável para esse tipo de leitura e a publicação de "Lost Girls" parece ser uma aposta segura. "O ´quadrinho adulto´ hoje deixou de ser apenas aquele que trazia conteúdo erótico", diz Del Manto. "O que vale hoje é a temática, a maneira como a história é contada. Sem dúvida, é uma fatia muito boa do mercado editorial e que tem muito potencial para crescer. Antes, ninguém prestava muita atenção ao papel ou à qualidade gráfica de um quadrinho. Hoje, os quadrinhos têm tratamento de livro e acabamento de luxo." Depois de "Lost Girls", é melhor ter mais cuidado ao olhar as bancas e livrarias. Alan Moore, escritor que sempre defendeu a validade da opinião, mostra novamente que não é necessário ser sisudo para expressar uma boa idéia. Melhor ainda quando ela surge de forma tão sedutora.

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