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''Hollywood é grande ilusão''

Stephen Dorff fala de seu entediado personagem de Um Lugar Qualquer

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Por Redação
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Quando Stephen Dorff recebeu uma pilha de roteiros de seu agente, em 2009, Um Lugar Qualquer foi o primeiro a atrai-lo. Não por ser um filme de Sofia Coppola. "Em contraste com os outros, de cerca de 200 páginas, era o mais sucinto. Parecia um curta-metragem, o que me deixou intrigado." O ator precisou conversar pessoalmente com a roteirista e diretora, depois, em Paris, para entender a economia de palavras no drama intimista que estreou sexta-feira no Brasil. "Ela não escreveu muito porque queria um protagonista introspectivo e melancólico, capaz de se fazer entender no silêncio, só com o olhar."O personagem em questão é Johnny Marco, astro de filmes de ação entediado com a dolce vita em Hollywood. Nada tem graça em sua vida, incluindo passeios de Ferrari por Los Angeles e sexo casual com beldades. De tão perdido, nem casa tem - não no sentido convencional. Prefere morar no lendário Chateau Marmont, na Sunset Boulevard, residência de muitos atores, como John Belushi, que morreu de overdose em 1982, num bangalô do hotel. Para espantar a solidão, Marco enche a cara, usa drogas, joga videogame ou contrata dançarinas de pole dance para sessões privadas. Mas nada adianta. Quem o ajuda a preencher o vazio é a filha Cleo, que chega de repente para passar uma temporada com o pai. "Eu poderia ser um Johnny Marco se tudo tivesse dado errado na minha vida. Ou certo, dependendo do ponto de vista", diz rindo. Mais conhecido como o vilão de Blade - O Caçador de Vampiros (1998), o ator de 37 anos teve, até então, carreira pouco expressiva nas telas. Um Lugar Qualquer, Leão de Ouro no Festival de Veneza, é seu melhor trabalho. "Fiz muitos filmes por dinheiro, só para pagar as contas, o que me deixou sem crédito." Ainda assim, Dorff não gostaria de trocar de lugar com o personagem. "De que adiantaria estourar logo nos primeiros filmes, sem saber se é isso mesmo o que você quer da vida?"Por não ter no currículo performances com densidade emocional, até Dorff se surpreendeu com o convite. "Pela primeira vez, tudo se encaixou de forma perfeita: filme, papel e diretor de qualidade, no momento certo na minha vida." E ele ainda pôde quebrar o estigma do vilão. "Amigos me perguntavam quando daria um tempo nos bad guys, queriam me ver num papel mais humano, até minha mãe", contou, lembrando que ela sonhava vê-lo na pele de pai nas telas. "Curioso é que Sofia me fez o convite no dia do primeiro aniversário de morte da minha mãe."Sofia é das poucas cineastas, diz o ator, audaciosa o suficiente para contratá-lo como protagonista num filme poético, sem necessidade de teste. "Os estúdios costumam exigir famosos nos papéis principais. Mas Sofia opta por orçamentos modestos, então consegue ter controle absoluto sobre seu trabalho."Dorff sentiu enorme pressão por estar em quase todas as cenas com a missão de traduzir "sutilmente a transição de um personagem, quase sem dizer nada". O que o ajudou foi a identificação com "a solidão desconcertante que Sofia capta no filme". "Apesar de toda purpurina lançada sobre Hollywood, não há nada de tão maravilhoso na vida dos astros e estrelas. É tudo uma grande ilusão."

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