26 de dezembro de 2012 | 10h24
"Gen Pés Descalços" foi publicado no Brasil pela Editora Conrad, inicialmente. Nascido em Hiroshima, no Japão, Nakazawa tinha 6 anos em agosto de 1945 quando os norte-americanos jogaram de um avião B-29 a primeira bomba atômica sobre sua cidade, provocando a morte de 232 mil pessoas (entre as quais estavam seu pai, seu irmão e suas irmãs). Ele e sua mãe, que morreria 20 anos depois, foram contaminados. Viviam a 1,5 quilômetro do local da explosão.
Seu gibi é considerado um testemunho histórico de raro impacto sobre a irresponsabilidade e a desumanidade que é o uso de armas atômicas em guerras. A gravidade do tema não o impediu de tratá-lo com senso de humor. O personagem Gen (pronuncia-se Guën) Nakaoka é um alter ego de si mesmo, e foi criado após a morte de sua mãe, em 1966. "Quando o corpo dela foi cremado, não sobraram seus ossos. Geralmente, eles resistem à cremação, mas o césio tinha devorado seu esqueleto. O ódio ferveu dentro de mim." Assim nascia Gen (significa raízes, em japonês), e o primeiro trabalho, batizado de "Hadashi no Gen", foi originalmente publicado de forma seriada em 1972 e 1973 na "Shukan Shonen Jump", a revista semanal de maior circulação no Japão, cerca de 2 milhões de leitores.
Tornou-se o primeiro mangá, ou gibi, a ser encontrado habitualmente nas livrarias escolares no Japão, recomendado por professores e pedagogos.
Nakazawa já não desenhava desde 2009, por não enxergar mais, decorrência de problemas de catarata. Também recebia tratamento contra um câncer no pulmão desde 2010. No quarto e último volume da história, "O Recomeço", ele mostrava a penosa tarefa dos sobreviventes da bomba de Hiroshima em retomar suas vidas após a tragédia que se abatera sobre eles. Essa dificuldade acompanharia Nakazawa pelo resto da vida.
Dois filmes foram feitos a partir da série. "Gen Pés Descalços 2", de 1986, tinha uma perspectiva expressionista, muitas vezes. A queda da bomba era mostrada primeiro do ponto de vista americano, protocolar e impassível. Em seguida, quando a bomba explodia, já era vista do ponto de vista dos habitantes japoneses da ilha, que viam as pessoas sendo vaporizadas e os edifícios explodindo em múltiplas cores. "Não há Godzillas expostos à radiação ou supermutantes, somente realidades trágicas", definiu Art Spiegelman. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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