História e memória na arte dos novos artistas

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Por Agencia Estado
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Como a maioria dos artistas selecionados por Katia Canton em Novíssima Arte Brasileira: Guia de Tendências, Sandra Cinto, 32 anos, e José Rufino, 35, não se limitam a uma só linguagem. Fazem desenhos, instalações, esculturas, objetos e fotografias. A paulista Sandra Cinto é um dos expoentes desta geração. Uma das de suas referências é Leonilson (1957-1993), um dos artistas mais importantes da geração 80. "Ele teve uma produção rica e urgente, no fim da vida", comentou a artista, em entrevista por telefone, de Paris, onde participa do L´Art Dans Le Monde 2000, evento organizado pelo Ministério das Relações Exteriores francês, em conjunto com a revista Beaux Arts, que uniu cem artistas de 50 países. Do Brasil, foram escolhidos ela e o paraibano José Rufino, ambos sob curadoria de Katia. Esta é a quarta vez que Sandra expõe na Europa. Em maio, passou pelo Centro Georges Pompidou, em Paris. Em setembro, pela coletiva brasileira na Galeria Canvas, no Porto, em Portugal, e, em outubro, na Bienal de Pontevedra, na Espanha. Galeria subterrânea - Ela desembarcou em Paris em agosto, com duas obras na bagagem. Não sabia qual delas iria expor na galeria subterrânea da ponte Alexandre III, para o L´Art Dans Le Monde 2000. Precisava conhecer o espaço de exibição. Ao chegar lá, achou que as paredes de pedra do espaço eram ideais para abrigar seu porta-retrato de madeira, parecido com uma miniescultura. A foto registra a artista dormindo, em atmosfera de intimidade. O desenho é sua linha mestra. Mas Sandra usa muitas outras técnicas. Em maio, nas salas do Centro Pompidou, por exemplo, ela cobriu uma tela de tinta acrílica negra e delineou estrelas prateadas com caneta. Ficou dez dias trancafiada no centro e a obra tornou-se parte de uma série que leva o título de Noites de Esperança. Assim como muitos de seus contemporâneos, Sandra explora todos os materiais: madeira, fotos, vidro... Mesmo quando fala da intimidade, pretende provocar reações, deixar a obra como um registro de seu tempo. Subversão da história - O paraibano José Rufino pretende reconstruir parte de sua história por meio de uma obra que trata da memória de sua família . Não pôde ir a Paris para o L´Art du Monde 2000, mas suas obras - oito desenhos realizados sobre cartas familiares - estão expostas na galeria subterrânea. Sobre as cartas, memórias da família paraibana ligada à cultura da cana-de-açúcar, ele desenhou, à base de tinta e cola, besouros, pedaços de árvores e outros símbolos. "São desenhos de um naturalista", afirmou Rufino. Memória, intimidade, herança familiar -- o tripé de sua obra -- encontra ecos na sua geração. "É como se eu estivesse propondo outro modo de enxergar minha história." Rufino faz uso de materiais ligados à escrita: gavetas, carimbos, livros, móveis, transformando-os desenhos em instalações. O artista e escrevia poesia antes de enveredar pelas artes plásticas. Quando viveu em Nova York, nos anos 80, a curadora Kátia Canton testemunhou o crescente interesse que a arte brasileira despertava no público especializado. Naquela época, segundo a estudiosa, a arte contemporânea dos Estados Unidos dava sinais de desgaste e jovens artistas brasileiros estavam em ascensão. Ela manteve, desde então, seu interesse pela nova produção artística do País.

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