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Hilbig fala do choque cultural alemão

Wolgang Hilbig, autor do livro lançado na França como Moi (Eu) falou sobre desorganização da Alemanha após a unificação, durante um Café Literário no Salão do Livro de Paris

Por Agencia Estado
Atualização:

Um dos escritores alemães convidados pelo Salão do Livro de Paris, Wolgang Hilbig, autor do livro lançado na França como Moi (Eu), disse que, "se a vida cultural é o caos, Berlim é a capital cultural da Alemanha". Explicou que não se referia ao canteiro de obras em que a cidade se transformou após a unificação, mas, sim, ao modo como a vida é agora organizada, ou melhor, desorganizada. "Há milhares de habitantes que Berlim nem sabe que existem, que não integram as estatísticas oficiais." Hilbig, que deixou a Alemanha Oriental em 85, quatro anos antes da Queda do Muro, contou, durante um Café Literário no Salão do Livro, que viveu um choque cultural particular, sem a histeria coletiva que marca as grandes mudanças políticas. O Salão do Livro foi aberto oficialmente com a presença do chanceler alemão Gerhard Schroeder e de seu ministro Joschka Fischer, além do presidente francês, Jacques Chirac. O primeiro texto de Hilbig traduzido na França foi publicado em 89, quando saiu o número 1 da revista Literall, voltada à produção alemã. Para Hilbig, não faz sentido cobrar dos escritores alemães uma grande obra sobre a derrocada soviética sobre o país. "Assim como há boas obras que passam pela Revolução Francesa, mas não um grande romance da revolução, há textos que cruzam esse período histórico, mas que não são exatamente sobre ele." A editora da revista e crítica, Nicole Bary, também estava no encontro. Segundo ela, seu projeto é anterior à Queda do Muro, mas serviu para destacar autores vindos da ex-Alemanha Oriental, bem como outras obras da produção em língua alemã, não necessariamente escritas no país, como a de autores austríacos e suíços. Para ela, Berlim vive momento de ebulição cultural, com locais em que autores consagrados e desconhecidos se revezam, na leitura de seus trechos, uma liberdade que não se encontra em Paris. Enquanto Hilbig falava sobre literatura, editores e livreiros discutiam a questão do preço fixo do livro. Na França, e em alguns outros países europeus, há limite de 5% para o desconto que as livrarias podem oferecer. O objetivo é fortalecer as pequenas livrarias, contrariando interesses de grandes redes, com a Fnac, e vendedoras de livros pela Internet. Como outros países da União Européia não adotam o preço fixo, os distribuidores franceses alegam que podem perder mercado para, por exemplo, livrarias belgas especializadas em vender, pela Internet, para a França. Em 2000, as editoras francesas tiveram um dos melhores desempenhos de sua história. A venda de livros, impulsionada por fenômenos como a série Harry Potter (com 3 milhões de obras vendidas) e o Petit Larousse (quase 1 milhão), cresceu entre 6% e 7%. Os setores que mais cresceram foram os de livros juvenis, de bolso e de auto-ajuda. O setor de literatura (com o Nobel Gao Xingjian chegando a 200 mil exemplares) cresceu 5%, o mesmo que o de história em quadrinhos. E obras de ciências humanas e dicionários, 2,5%.

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