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Hereros, uma cultura que resiste

Fotógrafo Sérgio Guerra clicou por 60 dias a rotina da etnia de Angola

Por Roberta Pennafort
Atualização:

Sérgio Guerra é pernambucano, morou no Rio e em São Paulo, radicou-se em Salvador e hoje vive mais da metade do ano em Luanda. Fotógrafo, publicitário e produtor cultural, ele descobriu a capital de Angola em 1999, quando chamado a desenvolver projetos para o governo do país. Desde então, conheceu as diferentes populações que compõem o povo angolano, entre elas, os hereros, concentrados na região sudoeste. Hoje, às 19 horas, na Livraria Cultura Villa Daslu, Guerra lança Hereros - Angola, luxuoso livro de fotos que apresenta o grupo.Nas numerosas viagens que fez à África na última década, ele percorreu 18 províncias. Nelas, retratou as belezas naturais, a força das tradições e também os efeitos dos conflitos civis. Em Hereros, livro bilíngue que lança por sua editora, a Maianga, com um CD de cânticos locais encartado, estão fotos feitas durante 60 dias de convivência intensa com essa população, em 2009. Paisagens deslumbrantes, rituais, tarefas do dia a dia, além de muitos retratos, aparecem junto a relatos dos hereros sobre seus costumes, como a poligamia, o coletivismo e o seminomadismo.Presentes também nos vizinhos Namíbia e Botsuana, num total de 240 mil pessoas, os hereros teriam chegado a Angola entre os séculos 12 e 15. Quando os avistou pela primeira vez, Guerra ficou muito impactado, não só pelo seu visual colorido, mas também pelo fato de estar diante de uma gente da qual os próprios angolanos sabem pouco.Os hereros não falam português, a língua nacional de Angola. A comunicação era mediada por um intérprete. Eles já foram mais isolados - hoje, segundo Guerra, com o contato maior com a sociedade dita moderna, os adultos já consomem bebidas alcoólicas e as crianças frequentam escolas.Paixão. Fotógrafo diletante e produtor de artistas brasileiros (Elza Soares, José Miguel Wisnik, Jussara Silveira, Lan Lan) e angolanos (Paulo Flores, Carlitos Vieira Dias), Guerra voltou a fotografar mais regularmente em Angola. É apaixonado pelo país. "Eu acho que as pessoas que vêm e não conseguem se adaptar em Angola querem encontrar as mesmas referências que têm no Brasil. Não adianta chegar e ficar entre brasileiros, assistindo à Globo Internacional", disse, referindo-se à grande colônia brasileira em Luanda, formada por expatriados que trabalham em empresas como Odebrecht e Petrobrás.Autor de outros quatro livros de fotos de Angola, Guerra coordena a área de comunicação institucional do governo do presidente de Angola, José Eduardo dos Santos. No ano passado, quando da realização dos ensaios com os hereros, começou a gravar um documentário sobre eles, que pretende lançar no ano que vem, e também uma série de programas televisivos, ainda a ser comercializada. Durante seis anos, ele já havia realizado o programa semanal de TV Nação Coragem. Por intermédio dele, ajudou famílias separadas pela guerra civil a se refazerem. Mais de cem reencontros foram exibidos, emocionando todo o país.

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