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Henrik Ibsen ganha espaço no Sesc de Copacabana

No Rio, centenário da morte do dramaturgo é lembrado em palestras, leituras e encenação de seu último texto, O Pequeno Eyolf

Por Agencia Estado
Atualização:

O centenário de morte do dramaturgo norueguês Henrik Ibsen, que se completa no dia 23, será lembrado a partir de hoje, no Espaço Sesc, em Copacabana, com palestras, leituras dramáticas e a remontagem de seu último texto, O Pequeno Eyolf, com direção de Paulo de Moraes e Tânia Pires, Fernando Alves Pinto, Carla Marins e João Vitti no elenco. Ibsen foi pioneiro do teatro moderno, ao levar para os palcos a perplexidade da Europa diante das mudanças sociais, políticas e tecnológicas do século 19. Mais de cem anos depois, é um dos autores mais montados no mundo e no Brasil (onde é encenado profissionalmente pelo menos a cada dois anos). O cálculo é de que pelo menos cem espetáculos com base em sua obra são encenados anualmente nos cinco continentes. "Ibsen é atemporal, critica a burguesia e expõe seus dramas e hipocrisias, com muita ironia. Por isso, seu texto é pesado, é um desafio, por ser uma linguagem de época, de difícil adaptação para a fala de hoje", diz Tânia Pires, que estrela O Pequeno Eyolf e é mentora de toda a homenagem. "Ele trouxe o cotidiano para o teatro e, aqui no Brasil, Nelson Rodrigues é sua maior influência. Ambos mostram as contradições da família, as dificuldades das relações. Nelson Rodrigues sempre negou essa ascendência, mas analistas já encontraram frases inteiras de Ibsen em sua obra." Quem duvidar terá uma amostra do melhor do dramaturgo, que viveu a maior parte de seus 80 anos fora da Noruega, mas sempre ambientou suas histórias em seu país, geralmente na capital. Seu sucesso colocou a Escandinávia no mapa-múndi do teatro, antes totalmente dominado pela França, de onde vinham os principais textos e os maneirismo de atores e encenadores. Como ele colocava os personagens em situações corriqueiras, falando informalmente, foi preciso criar um novo modo e encená-lo. Mas seus textos, longe de serem histórias leves, têm sempre uma crítica ácida aos costumes e à mesquinhez do ser humano. Para o ciclo de leitura, Tânia escolheu alguns textos mais conhecidos, mas deixou de fora Casa de Bonecas, que já teve inúmeras montagens (a mais recente, no Brasil, foi com Ana Paula Arósio no papel de Norah, a dona de casa que se liberta das convenções). Jane Fonda, em sua fase mais política, estrelou uma versão para o cinema. "Preferi o que o público conhece pouco ou que há muito não têm montagens no Brasil e chamei diretores que já fizeram ou pensam em fazer Ibsen", explica Tânia. "O Pequeno Eyolf também foi escolhido por que nunca tinha sido feito aqui no Brasil." Hoje, Moacyr Góes (que montou, nos anos 90, Peer Gynt, com Wagner Tiso adaptando a música original de Edvard Grieg ) dirige Solness, o Construtor. Na semana que vem, Eduardo Tolentino (que dirigiu Paulo Autran em Quando Despertamos entre os Mortos) traz seu elenco para ler Um Inimigo do Povo. Moacyr Chaves, dirige a leitura de Hedda Glaber no dia 18. Esta é a segunda peça de Ibsen mais montada (Dina Sfat a fez com sucesso, nos anos 70), mas não é a preferida de Chaves. "Eu ainda vou montar o Inimigo do Povo", promete o diretor. O ciclo termina no dia 25, com José Celso Martinez Correa à frente da leitura de Quando Despertarmos entre os Mortos. Além da leitura de hoje, estão previstas duas palestras. A primeira é Ibsen e Grieg - A Natureza como Fonte de Inspiração, com o embaixador da Noruega no Brasil, Jan Gerhard, que analisará a mútua influência do dramaturgo sobre o compositor. Logo em seguida, o professor da Universidade de Oslo Helge Ronning fala sobre Modernidade e Identidade na Obra de Ibsen. "Ele foi o agente da modernização da sociedade no século 19 e, neste início do século 21, as mudanças nos deixam tão perplexos como naquela época", adianta Ronning. "Por isso ele é tão encenado, só perde para William Shakespeare. Pessoalmente, gosto dos diretores que atualizam a ação." É o caso da montagem de Paulo de Moraes, que trocou a sala de jantar onde Ibsen ambientou uma complicada reunião de família por um espaço indefinido, tal como os figurinos que, propositalmente, não deixam clara a época em que tudo acontece. "O texto foi mantido na íntegra e para atualizá-lo demos leveza à interpretação", diz Tânia. "A Noruega vai comemorar o centenário até o fim do ano e, em setembro, promoverá um festival de montagens só com grupos estrangeiros. Helge veio nos assistir para confirmar o convite que recebemos. Mas, antes disso, vamos mostrá-lo em Curitiba, em junho, e na Bahia, logo depois, sempre na rede Sesc."

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