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Harold Pinter ganha o Nobel de Literatura

Veja ganhadores do Nobel de Literatura Veja outros ganhadores do Nobel 2005 Nomes do teatro nacional reverenciam Harold Pinter

Por Agencia Estado
Atualização:

O dramaturgo britânico Harold Pinter, de 75 anos, é o ganhador do prêmio Nobel de Literatura 2005, anunciou a Academia Sueca. Este é o segundo ano consecutivo em que o prêmio de Literatura é outorgado a um autor europeu - em 2004, o prêmio foi atribuído à polêmica escritora austríaca Elfriede Jelinek. Pinter "descobre o precipício subjacente nas questões cotidianas e força a entrada nos espaços fechados da opressão", diz o comunicado da Academia Sueca que concedeu a ele o prêmio no valor de US$ 1,28 milhões. Segundo o comunicado do júri, Harold Pinter "é o dramaturgo mais representativo do teatro britânico do pós-guerra". Pinter, que completou 75 anos no domingo, disse que estava "comovido" e que "não esperava" receber o prêmio. "Não tive muito tempo para pensar, mas estou muito comovido", declarou diante da porta de sua casa, próxima de Holland Park, no lado oeste de Londres, diante de muitos jornalistas. "É algo que eu não esperava em nenhum momento", disse o escritor, contando que brindou com champanhe após receber a notícia. Quando lhe perguntaram por que a Academia havia escolhido o seu nome ele respondeu: "Isso me pergunto eu". O prêmio de Literatura encerra a premiação da Academia Sueca neste ano. O dramaturgo Harold Pinter é o décimo escritor britânico a receber o Prêmio Nobel de Literatura desde o início das premiações, em 1901. Os países que receberam mais prêmios são os Estados Unidos (11), a França (10), Grã-Bretranha (10), a Alemanha (7), a Itália (6), a Suécia e a Espanha (com cinco cada um). Em dez ocasiões, o prêmio foi concedido a uma mulher. Além de peças de teatro, Pinter escreveu roteiros de cinema, trabalhou como ator e diretor, com uma obra marcada pelo estilo pouco rebuscado e pelo uso do silêncio em seus textos teatrais. "Pinter devolveu ao teatro seus elementos básicos: um espaço fechado e um diálogo imprevisível e realista, onde cada um está à mercê de si mesmo e onde as pretensões se desmoronam", acrescentou a Academia. Mesmo partindo de personagens e situações aparentemente normais, as peças de Pinter parecem sempre imersas em uma atmosfera de ameaça, mistério e horror e trazem sua preocupação com a relação de poder entre o carrasco e a vítima, o torturador e o torturado, o patrão e o escravo. Os críticos assinalam a forte ambigüidade de seus textos, por nunca deixar clara a razão para a vitória ou eventual derrota do personagem. Seu teatro, que continua de certo modo o de Samuel Beckett e sofre influências de Franz Kafka, utiliza a linguagem coloquial carregada de pausas, silêncios e efeitos teatrais. O prêmio Nobel de Literatura chega a Harold Pinter, quando praticamente deixa o teatro e luta contra um câncer de esôfago diagnosticado em 2002. Pinter é autor de 29 peças teatrais, várias delas montadas no Brasil. Entre as mais conhecidas estão A Volta ao Lar, Festa de Aniversário, Antigamente, O Monta-Cargas e A Mulher do Tenente Francês, também levada ao cinema. Há ainda O Zelador, produzida e protagonizada pelo ator Selton Mello, que ficou em cartaz nos últimos cinco anos, e trata do tema da solidão humana e da dificuldade de comunicação. Em junho deste ano, entrou em cartaz em São Paulo, no Auditório Cultura Inglesa, três textos curtos escritos por ele no final dos anos 60, Silêncio, Noite e Paisagem, reunindo sob o título Paisagem e Silêncio. São retratos da trajetória de diferentes relacionamentos amorosos, com direção de Denise Weinberg e Alexandre Tenório. Atualmente, está em cartaz no Rio de Janeiro Duas x Pinter, no Espaço Sesc de Copacabana, que reúne duas peças curtas, Cinzas a Cinzas e Uma Espécie de Alaska, escritas com uma distância de quase duas décadas pelo dramaturgo inglês, mas que têm em comum uma reconstituição do tempo, relembrado por acontecimentos terríveis. Sua peça mais recente, publicada e encenada em Londres, é Remembrance of Things Past (Memória de Coisas Passadas, em tradução livre), publicada em 2000 e montada no National Theatre de Londres. Há alguns meses, Pinter anunciou que havia decidido abandonar o teatro para dedicar-se integralmente à crítica política, apesar de ter admitido que continuaria escrevendo poemas. ?Escrevi 29 peças. Acho que é suficiente?, disse em entrevista para a BBC. Em 2003, ele publicou o livro de poemas antibélicos War, com o qual conquistou o prêmio Wilfred Owen, que leva esse nome em homenagem ao poeta que morreu na 1.ª Guerra Mundial. Pertencente à geração dos "jovens britânicos irados", as críticas políticas mais ácidas de Pinter nos últimos tempos tiveram como alvo a guerra do Iraque, na qual o Reino Unido foi fiel seguidor da administração norte-americana. Chegou a dizer que o primeiro-ministro Tony Blair era um "criminoso de guerra" e que os Estados Unidos eram um país "dirigido por um rol de delinqüentes". O ano passado, a Academia concedeu o Nobel à escritora austríaca Elfriede Jelinek, um prêmio que gerou controvérsia e levou um dos membros a abandonar a entidade. Nos últimos dez anos, o Nobel de Literatura foi concedido apenas três vezes a cidadãos de origem européia: V.S. Naipaul, J.M. Coetzee e Gao Xingyang, chinês nacionalizado francês. O prêmio de Literatura será entregue com os demais, no próximo dia 10 de dezembro, aniversário da morte de seu fundador, Alfred Nobel. Harold Pinter no cinema - O dramaturgo inglês escreveu também 24 roteiros de cinema. Um deles, foi o do filme O Mensageiro (The Go-Between, Inglaterra, 1969), dirigido por Joseph Losey, que conquistou a Palma de Ouro em Cannes. Com Julie Christie e Alan Bates, o filme conta a história de um garoto de 12 anos que se envolve em um triângulo amoroso com a aristocrática família de um amigo. O Último Magnata (The Last Tycoon, 1974), dirigido por Elia Kazan, com roteiro de Harold Pinter, baseado em história de F. Scott Fitzgerald, traz elenco estelar, com Robert De Niro, Tony Curtis, Robert Mitchum, Jeanne Moreau, Jack Nicholson. O filme conta a história de um rígido produtor de cinema na Hollywood dos anos 30, e sua relação com uma mulher igualmente dura. Mas, talvez seu roteiro mais famoso seja A Mulher do Tenente Francês, de 1980, baseado no romance de John Fowles. O filme dirigido por Karel Reisz, que tem Maryl Streep e Jeremy Irons no elenco, se passa na Inglaterra vitoriana do século 19, onde um cientista causa um escândalo ao trocar sua noiva por uma mulher discriminada pela sociedade. Recebeu cinco indicações para o Oscar em 1982, e rendeu o Globo de Ouro de melhor atriz a Meryl Streep. Biografia - Nascido em 10 de outubro de 1930, em Londres, filho de um alfaiate judeu imigrante da Europa Oriental, Pinter se viu separado de seus pais em 1939, no início da 2.ª Guerra Mundial, quando saiu da Inglaterra. A traumática separação serviu para alimentar sua imaginação e a visão introspectiva de seu teatro. Após regressar a Londres, aos 14 anos, matriculou-se na Real Academia de Arte Dramática de Londres, deixando os estudos após dois anos. Sempre contestador, em 1949, foi condenado por um juiz a pagar uma multa ao se negar a prestar o serviço militar. Ao longo de toda sua carreira manteve uma postura de compromisso a favor dos direitos humanos e contra a guerra. Homem de teatro até a medula, Pinter foi ator antes de ser dramaturgo e percorreu o país com diversas companhias, enquanto publicava os primeiros versos. Sua primeira peça longa foi A Festa de Aniversário, que estreou em 1958, em Londres, mal recebida pela crítica e retirada de cartaz uma semana depois da estréia. O jovem dramaturgo não se deixou intimidar por esse fracasso, e três anos depois publicou The Caretaker que iria estabelecer sua reputação como um dos mais destacados dramaturgos da língua inglesa. Em 1956, casou-se com a atriz Vivian Marchant, de quem se divorciou em 1980. Depois, se casou com a historiadora e escritora Lady Antonia Fraser. A lista de prêmios recebidos por Harold Pinter é longa: Prêmio Shakespeare, Prêmio Europeu de Literatura (1973), Prêmio Pirandello, Prêmio David Cohen, Prêmio Laurence Olivier e o Prêmio Moer de Honra. Em 2002 recebeu o título de Companheiro de Honra, outorgado pelo Governo britânico após ter se recusado a ser Cavalheiro da Honra. Seus roteiros para o cinema também lhe renderam prêmios como o Urso de Prata do Festival de Cinema de Berlim em 1963, Prêmios Bafta em 1965 e 1971, a Palma de Ouro do Festival de Cannes em 1971 e o Prêmio da Commonwealth em 1981. Pinter também foi indicado ao Oscar por "Betrayal" e A Mulher do Tenente Francês. Em 1973, Pinter obteve o prêmio Austríaco de Literatura Européia. Nesse mesmo ano foi eleito diretor da Associação de Teatro Nacional na Inglaterra e, em 1979, doutor honoris causa pela Universidade de Stirling.

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