Hamilton Vaz Pereira estréia no Oficina

O incansável criador do grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone estréia sua próxima peça em São Paulo na sexta e engata com a conclusão de sua autobiografia

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Por Agencia Estado
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Hamilton Vaz Pereira acaba de colocar um ponto final no livro Para Esquecer Que se Morre, sua biografia artística escrita com o apoio da Bolsa Vitae de Artes. Ponto final, só no livro. Afinal, o criador do Asdrúbal Trouxe o Trombone, um dos grupos teatrais mais importantes da década de 70, nunca pára. Desejos, Bazófias e Quedas, sua mais recente criação, estréia na sexta-feira no Teatro Oficina para uma curta temporada, depois de ter ficado em cartaz no Rio. O título da autobiografia pode parecer estranho, mas tem tudo a ver com sua dramaturgia, com sua concepção de teatro. "Tudo o que a gente faz é para esquecer a morte; fazer arte é brincar entre vida e morte - o meu teatro é o meu brinquedo." Não foi diferente com Desejos, Bazófias e Quedas que tem no elenco Lena Brito, Luciana Braga, Leonardo Medeiros, Ernesto Piccolo e Bruno Garcia. "Estava em processo de criação quando caíram as torres em Nova York. A primeira reação foi achar que o mundo seria diferente, que o espetáculo tinha ficado subitamente ultrapassado antes mesmo de estrear. Mas aí a gente segue vivendo e percebe que essa grande tragédia acaba incorporada às outras grandes e pequenas tragédias dos cotidiano", observa Hamilton. Nessa peça, o teatro faz parte do cotidiano dos personagens. Como há muito ocorre na vida do diretor. Regina Casé, Luis Fernando Guimarães, Patricia Travassos, Evandro Mesquita, Lena Brito - essa turma irreverente e talentosa integrava o elenco dos primeiros espetáculos do Grupo Adrúbal Trouxe o Trombone. Depois de terem participado de montagens antológicas sob direção de Hamilton como Trate-me Leão e Aquela Coisa Toda, montagens que influenciaram uma geração de artistas, foram brincar com outras turmas. Mas as marcas de um tipo de criação que reflete diretamente no palco, de forma bem-humorada, as vivências do dia a dia marca até hoje o trabalho dos integrantes desse grupo. E mesmo com transformações trazidas pelo amadurecimento pessoal e artístico, esse misto de irreverência e reflexão é ainda hoje a mais forte marca do trabalho de Hamilton, como o público paulistano poderá conferir a partir de sexta-feira no Oficina. "Desejos, Bazófias e Quedas enquadra-se em uma das vias de minha dramaturgia, que começa com Trate-me Leão. Um tipo de dramaturgia na qual não há uma história central, mas um entrelaçamento de situações e personagens envolvidos com pequenas e grandes tragédias do cotidiano urbano." Essa era a linha de um dos grandes sucessos de sua carreira, o monólogo Nardja Zulpério, no qual voltou a dirigir Regina Casé. Quem viu a montagem deve lembrar o misto de inquietações cotidianas e existenciais. No monólogo, a atriz interpretava uma mulher urbana contemporânea, que chegava em casa num fim de noite, depois de um dia de trabalho duro, sem direito a descanso. Além das tarefas domésticas, ela tinha de preparar-se para um fazer um teste como atriz no dia seguinte. Um teste importante, pois daquele trabalho dependia o pagamento de algumas contas atrasadas. Com esse ponto de partida, Hamilton levava à cena a filosofia de Nietzsche, a mitologia grega, o medo da morte, a carência afetiva, enfim, angústias, alegrias e reflexões humanas. A peça que estréia sexta-feira no Oficina segue essa mesma linha. "Gente que tem desejos, alguns frustrados, outros realizados; que gosta de contar vantagens, de bazofiar e também tem seus abismos, sua quedas." São personagens meio estranhos, capazes de discutir mitologia grega, sexo e sobrevivência. "Tenho orgulho de ter sido sempre ambicioso. Nunca fiz dramaturgia de sofá. Mesmo quando o resultado saiu errado, ousei." Desejos, Bazófias e Quedas - Teatro Oficina. Rua Jaceguai, 520. Tel: 3106-2818. Sextas e sábados, às 21h; domingo, às 19h. R$ 20,00.

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