'Hamelin' traz Vladimir Brichta aos palcos de São Paulo

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Por AE
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"Um dia minha filha chegou com uma mordida no braço. Perguntei o que era. Ela disse que tinha sido a babá. Mas a babá me deu outra versão. Fiquei em conflito, mas, ainda que minha filha estivesse mentindo, afastei a moça do serviço." O relato do ator Vladimir Brichta ao repórter do Estado ocorre em cima do palco, momentos antes de protagonizar "Hamelin", em cartaz até o dia 29 no CCBB, em São Paulo. Com um caso real, expõe uma das essências do drama policial que protagoniza há um mês: a possível dissimulação infantil.O texto do espanhol Juan Mayorga, adaptada por André Paes Leme, centra a história num suposto caso de pedofilia que envolve um figurão da cidade (Alexandre Mello). Vladimir é Monteiro, o juiz que busca incriminar o sujeito. Mas ele tem apenas imagens coletadas do computador do acusado, além do depoimento do irmão mais velho da ?vítima?. O juiz vai ouvir então a criança. Pergunta três vezes, até extrair a afirmação de que o homem o tocava durante o banho, nos fins de semana em seu sítio. "Mas ele insiste na pergunta para conseguir a verdade ou para forjar a mentira?," provoca Vladimir. "Em Hamelin, nada é conclusivo", emenda. Ao que o diretor intervém: "A conclusão é fácil, difícil é viver com a dúvida."Não há praticamente recursos cênicos em "Hamelin". Apenas uma mesa, luminárias (que os atores acendem e desligam) e um ?cantinho? do café. Também não há figurinos. "Me entedia a sensação de maquiagem. Meu trabalho é na essência dos atores", diz o diretor. O elenco se reveza em mais de um papel, como Oscar Saraiva, que atua como a criança abusada e o pai da mesma. Assim, em momento algum o encontro entre o pai e o filho se realiza. Em 90 minutos, a trama se espalha para outros temas. É um dedo em riste em questões da sociedade e da família, que envolve o julgamento alheio, a manipulação e precipitação da imprensa e o vazio entre a relação de pai e filho.Contratado da TV Globo, Vladimir sabe que deve ser escalado para algum projeto em 2010. Mas quer aproveitar o palco. "Hamelin é um jogo de cena contemporâneo que retoma o instrumento mais antigo do teatro: o poder da palavra." Para o ator, a peça merece ser levada a "pontos inimagináveis do País". Já tem garantida passagem por Fortaleza e temporada no Rio. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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