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Há cem anos, J. Carlos surgia para o mundo

Em 1902, um desenho sem capricho chegava à redação do jornal O Tagarela. Publicado no dia seguinte, abria o caminho para o maior ilustrador da imprensa brasileira

Por Agencia Estado
Atualização:

Há cem anos, em 23 de agosto de 1902, o jornal O Tagarela trazia uma charge intitulada Interesse Curioso, do adolescente José Carlos de Brito e Cunha, que ousara mandar para o jornal onde Raul Pederneiras e K.Lixto, estrelas da caricatura brasileira, colaboravam. Pela qualidade do desenho e da piada o trabalho não entraria na história, mas seu autor, que logo passaria a assinar J.Carlos, se tornou o mais importante desenhista e ilustrador da imprensa brasileira até 1950, quando morreu. Hoje, mais de meio século após sua morte, ainda influencia os artistas atuais. Não se sabe quantos desenhos J.Carlos publicou nesses 48 anos nem em quantos jornais e revistas. Calcula-se em 100 mil e não há notícia de publicação importante desse período que não tenha recebido uma ilustração sua. De O Tagarela, logo passaria para A Avenida, O Malho, Tico-Tico e Fon-Fon até chegar de Careta, que formou opiniões de 1908 a 1950, e O Cruzeiro. Era um tempo sem TV, internet e telefone fácil e a informação circulava nas páginas de uma imprensa que não dispunha da fotografia. A imagem era criada pelos ilustradores. Depois desse início, J.Carlos tornou-se o principal deles. No entanto, não fez sucesso na estréia, como ele contou e justificou para a Revista da Semana, e 44: "Eu era ainda colegial. Por brincadeira, tendo desenhado um boneco qualquer, resolvi mandá-lo a um jornal. Receberam o meu desenho. Acharam horrível. O mais interessante é que o meu desenho foi publicado. Aquilo foi a semente." Semente que germinou, se espalhou por toda a imprensa brasileira e dá frutos até hoje. J.Carlos desenhou os principais personagens brasileiros da primeira metade do século 20, anônimos ou públicos, políticos ou boêmios, às vezes ambos. As suas melindrosas e seus almofadinhas povoam nosso imaginário e, diz a lenda, até o brasilero típico da ficção, o Zé Carioca, foi criação sua. Nos anos 40, o desenhista e produtor de desenhos animados Walt Disney, encantado com seu traço, o convidou para trabalhar em seus estúdios, nos EUA. J.Carlos recusou o convite, mas deu-lhe um esboço de um papagaio que, desenvolvido, tornou-se nosso principal propagandista, ao lado de Carmem Miranda. Hoje, a memória de J.Carlos perdura como nome de rua no Rio e em mostras esporádicas, como a que fez parte do 1.º Festival de Humor Gráfico organizado em maio pelo pesquisador Lúcio Murici, no Centro Cultural da Justiça, no Rio. Seu trabalho aparece também em livros de histórias e em raras biografias, como a que foi escrita por Álvarus nos anos 80.

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