Günter Grass nega ser "avô" da nova geração

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Por Agencia Estado
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Espécie de embaixador dos escritores que representam a Alemanha no Salão do Livro de Paris, Günter Grass queixou-se, no fim de semana, do fato de chamarem os jovens autores do país de "netos" ou "filhos" de sua obra. "Fazem mal a eles quando dizem que são meus netos ou meus filhos", disse Grass. Para ele, "há uma variedade na produção alemã contemporânea que não se explica assim", apenas por uma árvore genealógica em que ocuparia a posição mais elevada. Embora seu último livro, Meu Século, já houvesse sido editado na França, uma nova versão chegou ao público, em que cada ano do século 20, além do texto do Prêmio Nobel, traz aquarelas feita por ele, numa versão de luxo. O autor evitou falar do seu próximo projeto. Disse apenas que, depois da premiação da academia sueca, se voltou para a escultura, uma arte em que também atua, sem a mesma repercussão da literatura. Além de Grass, mais de 50 escritores alemães participam da programação do Salão do Livro de Paris, em debates, conferências e lançamentos de livros. O país é o convidado de honra do evento. Apesar dessa pequena reclamação, Grass, nas conferências que tem dado, diz que sua obra é analisada mais propriamente no exterior do que na Alemanha. "Não somos nunca profetas no próprio país; isso é normal, acontece também com os escritores franceses." Ele admite que sua trajetória e a visão que oferece da história da Alemanha gera polêmicas quase que insuperáveis, lembrando reações que teve dos anos 70 até a sua conquista do Nobel. Grass, que começou a escrever seu mais conhecido livro, O Tambor, em Paris, também falou da época em que viveu na cidade, e de sua origem, de Gdansk, uma região que atualmente pertence à Polônia. O Prêmio Nobel de 1999 disse ainda que, embora a Alemanha estivesse dividida entre socialistas e capitalistas por 45 anos, no campo literário, não se abriu a mesma distância que havia no mundo político e econômico. Continuou a haver diálogo entre a produção dos dois lados, uma literatura que era apenas alemã, "apesar da censura de um lado e da ignorância do outro". Grass é um social-democrata convicto, partido do qual se aproximou por interrmédio de Willy Brandt, em sua primeira campanha eleitoral, depois que ele foi atacado pelo democrata-cristão Konrad-Adenauer. Ele comentou que Brandt, em vez de dizer "eu", recorria ao modesto - e pouco efetivo -- "este que vos fala". A política é, portanto, indissociável de seu caminho de escritor, e ele não se furtou a tratar do assunto, mesmo quando sua proximidade com a criação literária não fosse direta. A reunificação, tal como foi feita, não agradou a Grass. "Ela não respeitou os 18 milhões de cidadãos da República Democrática da Alemanha, que não tiveram um Plano Marshall; a unificação foi feita visando a resultados políticos imediatos." Uma queixa constante do autor é que não foi feita uma nova Constituição após a união, o que seria uma exigência da legislação da Alemanha Ocidental. E as diferenças entre os dois lados do país não foram suprimidas. "O fosso social cresceu após a queda do Muro de Berlim."

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