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Günter Grass escreve carta ao prefeito de Gdansk

O escritor Prêmio Nobel de Literatura explica sua tardia declaração de ter servido na Waffen-SS durante a 2.ª Guerra Mundial

Por Agencia Estado
Atualização:

O escritor Günter Grass, Prêmio Nobel de Literatura de 1999, disse nesta terça-feira em uma carta dirigida ao prefeito e aos moradores de Gdansk, sua cidade natal, que somente na velhice encontrou a "fórmula certa" para falar sobre o fato de ter servido na Waffen-SS, durante a 2.ª Guerra Mundial. Grass possui o título de Cidadão Honorário de Gdansk, assim como Lech Walesa, Prêmio Nobel da Paz, que sugeriu que o escritor abdicasse do título após sua declaração. Após ler a carta, Walesa reconsiderou sua posição. Entretanto, no domingo, pesquisa realizada pelo instituto PBS, indicou que 72% dos cidadãos de Gdansk não queriam retirar de Günter Grass o título de Filho Predileto da Cidade, concedido a ele há vários anos, por sua contribuição na reconciliação entre poloneses e alemães. Carta Em um trecho de sua carta dirigida ao prefeito Pavel Adamovicz, Grass diz que "nos anos e décadas após a Guerra, quando o terrível panorama de crimes da Waffen-SS foi revelado, eu guardei para mim mesmo este episódio de minha juventude, que foi breve, mas que pesou muito sobre mim. Entretanto, nunca pude apagar isso de minha memória", escreveu o prêmio Nobel de Literatura com data de 20 agosto, mas que foi divulgada somente na terça-feira. O texto é publicado na edição desta quarta-feira no jornal alemão "Frankfurter Allgemeine Zeitung", o mesmo que divulgou a primeira entrevista de Grass sobre sua polêmica atuação na Waffen-SS. "Somente agora, com a idade, eu encontrei a fórmula certa de falar sobre isso, com um olhar distanciado". O prefeito de Gdansk deu a carta para ser lida pelo ator Jerzy Kiszkis, durante uma coletiva de imprensa na cidade polonesa. Na carta, Grass diz que seu livro de memórias conta como em 1942, na cegueira de seus 15 anos de idade ele decidiu se alistar para servir em um submarino, mas não foi aceito. Em compensação, em setembro de 1944, aos 17 anos, fou obrigado a me alistar na Waffen-SS, sem que tivesse a chance de escolher, como ocorreu com muitas pessoas de sua geração, e então me tornei membro da Waffen-SS". Grass diz que é obrigado a aceitar as críticas suscitadas pelo seu silêncio de cinco décadas sobre sua militância na SS. "Este silêncio pode ser visto como um erro e, como está acontecendo, ser condenado. Também tenho que aceitar que muitos cidadãos de Gdansk questionem que eu seja cidadão de honra da cidade", disse Grass em sua carta, publicada hoje no "Frankfurter Allgemeine Zeitung". "Neste caso, não tenho direito a tudo o que tem significado nestas décadas minha obra como escritor e como cidadão comprometido na República Federal da Alemanha", acrescenta Grass. O escritor afirma ter aprendido as duras lições de sua juventude. "Meus livros o demonstram, assim como minha atitude política", escreve. Grass, de 78 anos, chocou seus admiradores ao confessar ter servido na elite militar do nazismo, a Waffen-SS, em seu livro de memórias, "Peeling the Onion" (Descascando Cebolas) que foi lançado antecipadamente na Alemanha, por conta da polêmica causada por suas declarações. Lech Walesa encerra polêmica Lech Walesa, ex-presidente da Polônia e Prêmio Nobel da Paz de 1983 disse que não pedirá mais explicações ao escritor por sua participação na Waffen-SS nos tempos da guerra. "Li a carta dirigida ao prefeito de Gdansk e posso assegurar que as explicações dadas pelo escritor me convenceram", disse Walesa. O prefeito Pavel Adamovicz visitou Walesa para mostrar-lhe a carta de Grass e depois de sua leitura, o ex-presidente polonês assegurou que encerrou seu conflito com o escritor. "Penso que ele esclareceu muito bem e tenho a esperança de que possamos continuar construindo juntos a reconciliação entre os poloneses e os alemães e que edificaremos também juntos a nova Europa", disse Walesa. (Matéria alterada com novas informações às 8h50 de 23/8)

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