Guitarrista do Nação Zumbi lança seu primeiro disco solo

Em ´Maquinado´, Lúcio Maia conta com a colaboração de parceiros de banda

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Por Redação
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Há quase um ano, em um dos tantos divinos inferninhos de São Paulo, o Sarajevo, Lúcio Maia reuniu fãs e chegados para apresentar sua mais nova ‘ação entre amigos’, na melhor acepção da palavra: Maquinado (Trama). O primeiro trabalho-solo do guitarrista chegou há pouco às lojas e traz parcerias com outros ótimos músicos e amigos, como Buia do Z’África Brasil, Chiquinho Moreira, do Mombojó, e Siba, ex-Mestre Ambrósio. "Ainda não é nada definitivo. Estamos acertando os ponteiros e acordes. Mas está ficando bacana", dizia o guitarrista da Nação Zumbi. Mais que um dos músicos da banda mais poderosa (poder aqui se refere ao som poderoso dos meninos de Pernambuco) do rock nacional, Maia é também o melhor guitarrista do Brasil. Pode parecer tietagem, mas quem acompanha a cena rock nacional concorda. A Nação pode não ser melhor que ninguém, mas é única. Quer comprovar? Assista a um show em pleno marco zero do Recife no carnaval. Na terra do frevo e do maracatu, a Nação é responsável por delírios afrociberdélicos de todas as tribos. Ou assista a um show da banda na Praça da Sé durante a Virada Cultural. Tinha gente de todos os cantos e nações. Na última Virada, em abril, até os manos do rap que ali estavam para assistir aos Racionais MCs pararam para ver o bloco do maracatu atômico passar. Tudo isso para dizer que Maquinado é a prova de que uma banda pode permanecer unida e melhorar cada vez mais, sem deixar de dar a seus integrantes a liberdade de tocar projetos paralelos. Tanto que Jorge Du Peixe, Dengue e Toca Ogam (respectivamente, vocalista, baixista e percussionista da Nação) participam de várias faixas do CD. Du Peixe já havia sido parceiro de Maia em outro projeto, que, não por acaso, deu origem a Maquinado. Maia conta que, desde o início da carreira, queria fazer algo parecido. A idéia começou a tomar forma depois que ele e Du Peixe compuseram a trilha sonora de Amarelo Manga (filme de Cláudio Assis). Depois processo de compor e guardar muitas das criações numa pasta do computador, Maia tinha mais de 30 faixas-base. Foi quando deu início ao culto da "mecanização do pensamento". Pensar e viajar Maia e parceiros de Maquinado professam suas preces em códigos binários, em um culto à tecnologia. Este culto não deixa de ter sua parcela crítica e brincalhona, que se evidencia nas viagens sonoras dignas de odisséias no espaço. Como bem diz, "o maior amigo do homem só entende certo e errado, verdadeiro e falso, ligado e desligado". O computador, e não o cão, é hoje alvo de devoção. Como já disse a Nação Zumbi, computadores fazem arte e artistas fazem dinheiro. Maquinado faz pensar e faz viajar. Impossível não ter vontade de sair dançando ao som de Tá Tranqüilo, um pós-ragga em parceria com Speedy Freaks. Arrudeia, a primeira faixa do CD, é uma viagem futurística que prova por que Maia consegue ao mesmo tempo se aventurar por riffs psicodélicos e pelo suingue tão brasileiro. Destaque para os teclados de Chiquinho. Do futuro para as raízes do samba do pandeiro que Toca Ogam esbanja na faixa seguinte, a deliciosa Não Queira se Aproximar. Toda a malandragem na voz de Funk Buia, do Z’África Brasil. Alados vai mais fundo ainda nas raízes e convida para uma ciranda ao som do menestrel Siba, acompanhado por Dengue, Carranca (na caixa) e Roberto Manoel (trompete). A viagem continua pelas ambientações, groves perfeitos, ora minimalistas ora melodias que grudam feito chiclete, de Maia. Maquinado e o ‘homem binário’? Tem que ouvir pra saber.

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