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"Guerra e Paz" ganha nova edição no Brasil

Lançamento da Ediouro, que ainda não é tradução direta do russo, mas do francês, junta-se a outras obras de Leon Tolstoi publicadas recentemente no País

Por Agencia Estado
Atualização:

Nenhum romance foi mais vezes chamado de epopéia do que Guerra e Paz. Isso coloca seu autor, o russo Leon Tolstoi (1828-1910), o mais próximo que um escritor pôde chegar de Homero, o grego a quem são atribuídos os textos poéticos que fundaram a literatura: Ilíada e Odisséia. Essa obra monumental ganha uma nova edição no Brasil. Não se trata, infelizmente, de uma tradução do original russo - vertida do francês anteriormente e publicada pela Editora Globo, ganhou uma revisão em que o texto foi agora comparado com uma tradução para o inglês. O lançamento, pela Ediouro (selo Prestígio, três volumes, R$ 129), no entanto, reforça a presença de Tolstoi entre os autores clássicos no mercado editorial brasileiro. Novelas suas, desta vez recém-traduzidas do russo, foram lançadas em 2000 e 2001, nos volumes O Diabo e Outras Histórias e Padre Sérgio pela Cosac & Naify, reforçando o esforço já realizado especialmente pelo crítico e tradutor Boris Schnaiderman, que verteu do original, entre outros, Khadji-Murát, e pela escritora Tatiana Belinky, tradutora de A Morte de Iván Ilitch. Uma pequena editora, a Verus, de Campinas, a 90 quilômetros de São Paulo, também lançou recentemente uma pequena coletânea de três contos religiosos de Tolstoi, a partir do russo, que recebe o nome do primeiro dos textos: Onde Existe Amor, Deus Aí Está (130 págs., R$ 18 90). Em resumo, parece que se prepara o terreno para a grande empreitada que falta: a chegada de versões completas, cuidadosas e fiéis de seus grandes romances: Guerra e Paz e Anna Karenina. Até lá, nós, desconhecedores do russo, temos de aceitar as perdas naturais das traduções indiretas: a professora da Universidade de São Paulo Aurora Bernardini, por exemplo, nota que nesta edição (que vem numa caixa resistente, mas com letras prateadas de gosto duvidoso), cartas trocadas pelos personagens em francês, e não em russo, estão já em português, como o restante do texto. E o Buonaparte de Napoleão perdeu a letra u (Tolstoi escrevia "Buonaparte", ressaltando sua origem italiana, o que não é ausente de significado). Guerra e Paz passa-se durante a trágica aventura napoleônica. De 1805 a 1813, pequenas e grande história se misturam, a guerra dos generais, franceses e russos, e a do povo _ a guerra dos invasores e a dos invadidos. São incontáveis os personagens, o que torna qualquer sinopse absolutamente inútil e praticamente impossível de ser bem realizada. Romain Rolland, autor da biografia La Vie de Tolstoi, escreveu: "A maior parte dos leitores franceses, um tanto míopes, vê apenas milhares de detalhes, cuja profusão lhes maravilha e desconcerta. Eles se perdem nessa floresta de vida. É preciso se elevar acima dela e alcançar com o olhar o horizonte livre, o conjunto de bosques e campos: então se perceberá o espírito homérico da obra, a serenidade das leis eternas, o ritmo imponente do sopro do destino, o sentimento de união aos quais todos os detalhes estão ligados, e, dominando a obra, o gênio do artista, como o Deus do Gênese que flutua sobre as águas." "Todas as questões essenciais da condição humana presentes na obra de Tolstoi continuam atuais", afirma Paulo Bezerra, tradutor de Dostoievski. "Releio Guerra e Paz a cada cinco anos", afirma. Para Bezerra, Tolstoi foi, por exemplo, um dos primeiros a apontar o processo de destruição da natureza com um grande desastre, ainda pior que o da espoliação humana. "O que há de mais admirável em Tolstoi é justamente a união do plástico e do crítico", escreveu certa vez Boris Schnaiderman. "O ponto de partida para as suas grandes obras literárias, as mais sólidas como realização artística, consiste, sem dúvida, numa abordagem crítica."

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